Políticas de repressão às drogas devem ser repensadas, dizem especialistas

21/08/2009 - 16h22

Flávia Villela
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - Enfrentar o problema do tráfico e do consumo de drogas apenas com armase punição é uma guerra perdida. Esse é o consenso entre osespecialistas nacionais e internacionais e autoridades que participam,durante todo o dia de hoje (21), da primeira reunião da ComissãoBrasileira sobre Drogas e Democracia (CBDD), na Fundação Oswaldo Cruz(Fiocruz), no Rio de Janeiro. Oex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que esteve à frente daComissão Latino-Americana sobre Drogas e Democracia, abriu a reunião edefendeu que a questão das drogas deve ser enfrentada como um problemade saúde pública, e não somente como caso de polícia. Para ele, os usuáriosdeveriam ser tratados no Sistema Único de Saúde (SUS). “Acreditarnum mundo sem drogas é imaginar que possa existir um mundo sem sexo.Vamos quebrar o tabu. O uso da camisinha já foi tabu e hoje defendemoso sexo seguro. Agora, devemos procurar reduzir os danos que as drogascausam na sociedade e, para isso, é necessário conscientizar a populaçãoe dar suporte aos tóxico-dependentes.” O ex-presidente lembrouque o controle territorial por parte de traficantes se tornou umproblema grave no Brasil e não deve ser combatido. “Mas a educação e amudança de mentalidade são fortes estratégias de prevenção do consumode drogas”, disse Fernando Henrique.A pesquisadora Celia Morgan, da BeckleyFoundation e Fellow da European College of Neuropsychopharmacology, apresentou um estudo que aponta que drogas lícitas, comoo álcool, são muito mais nocivas ao cérebro que algumas drogasproibidas como a maconha.  “Esses dados ajudam na reflexão sobre osparâmetros usados para se classificar quais drogas devem ou não serlegalizadas e reconsiderar que há drogas proibidas menos prejudiciaisque outras encontradas em farmácias, por exemplo”. Para oeconomista Peter Reuter, professor do Departamento de Criminologia da Universidadede Maryland, a legalização de drogas como maconha ecocaína, por exemplo, diminuiria a criminalidade, mas aumentaria oconsumo e o vício. “Seria uma medida positiva para os mais pobres quesofrem diretamente com a questão da droga, pois haveria redução daviolência. Ao mesmo tempo, seria negativa para a classe média, devidoao aumento do consumo”. Embora ele não defenda a legalização,Reuter acredita que é necessário criar estratégias radicalmentediferentes das que existem hoje.