Movimento denuncia que retirada de moradores da região da Usina de Santo Antonio não está sendo pacífica

18/07/2009 - 14h35

Mariana Jungmann
Enviada Especial
Porto Velho - A retirada de moradores da região onde está sendo construída a UsinaHidrelética de Santo Antônio não está sendo pacífica. A denúncia é doMovimento dos Atingidos por Barragens (MAB), que alega que os moradoresnão são conscientizados de seus direitos e estão sendo “expulsos” dolugar.“Elas começaram a ser removidas em um processo violento deexpulsão, arrancando as famílias, queimando as casas, não permitindoque as famílias se organizem para reivindicar seus direitos”, afirmouMoisés da Costa Ribeiro, integrante da direção nacional do movimento.Segundo ele, algumas pessoas aceitaram ir para o assentamento, criadopelo consórcio que está construindo a usina, porque não sabiam os seus direitos e ficaram com medo de perderem tudo.Os queresistiram, de acordo com Moisés, foram retirados dos terrenos, tiveramas casas queimadas e precisaram “se virar” enquanto entram na Justiça ou negociam as indenizações. “Isso aconteceu com algumasfamílias. Eles nunca se preocuparam com a titulação da terra em queviviam. Seus pais viveram lá, seus avós viveram lá e ninguém nunca sepreocupou em ter umpapel que atestasse que eram donos da terra. Agora, as construtoras usamisso para não pagar indenizações e o Estado expulsa essas pessoas parafazer valer o direito da construtora”, alegou Ribeiro.A ribeirinha Neusete Paulo Afonso reforçou as acusações do MAB. Segundoela, que preside uma associação de ribeirinhos, as pessoas que foramretiradas dos terrenos à beira do rio foram levadas para assentamentosprecários e não estão conseguindo sobreviver. "Eles fizeram uma tal deagrovila. Botaram o pessoal em um terreno que é só pedra, não dá paraproduzir nada e eles ainda cobram R$ 15 de energia. Como nós vamospagar?", questionou ela.De acordo com Neusete, as propostas eram feitaspelo consórcio e os moradores tinham 15 dias para dar uma resposta.“Eles é que fazem a proposta, não é a gente que dá o preço da nossaterra. Muitos ficaram com medo de perder, porque para quem não aceitavaeles ameaçavam entrar na Justiça”, afirmou.Os gestores da concessionária Santo Antônio Energianegam que tenha havido qualquer tipo de violência na retirada dosmoradores, muito menos a queima de casas e que todos os procedimentosforam muito negociados com as famílias ribeirinhas. Segundo opresidente da empresa, Roberto Simões, todas as famílias receberam casasconstruídas em terrenos de 2 mil metros quadrados, além da área para produção – emgeral, plantação de mandioca – e que foram observadas todas asnecessidades deles.“Nós tomamos muitos cuidados com essasfamílias, porque são pessoas que têm um estilo de vida muitorudimentar. Muitos deles não sabiam sequer utilizar o interruptor deluz ou o vaso sanitário quando os contatos começaram. Então nós tomamostodos os cuidados e temos um compromisso formal com o Ibama demonitorar essas famílias durante até três anos após o término das obraspara saber se elas estão se adaptando”, alegou Simões.Opresidente do consórcio também explicou que o acesso à área da usina,onde estão sendo feitas as obras, teve que ser impedido por questões desegurança. “Mas no reservatório está tudo livre”, garantiu. O custo dascompensações sócio-ambientais pagas pelos construtores da usina são deR$ 900 milhões. O custo total da obra é de R$ 13 bilhões.