Economista da UnB vê "leniência e paradoxo" na liberação do compulsório bancário

20/05/2009 - 7h33

Stênio Ribeiro
Repórter da Agência Brasil
Brasília - De outubro do ano passado a fevereiro desteano, os bancos privados nacionais receberam  R$ 100 bilhões do compulsório bancário para comprar carteiras decrédito dos bancos menores, mas em vez disso investiram o dinheiroliberado na compra de títulos públicos, a custo zero, com retornogarantido. Não cumpriram o objetivo da liberação e ficou por issomesmo, na opinião do professor de economia da Universidade deBrasília (UnB), Roberto Piscitelli."Ou as condições para a liberação do compulsório não foram claramente estabelecidas,ou o governo é leniente: faz a concessão e pede que os banqueiros oajudem". Para o economista, "fica parecendo que o governo concedeu aos banqueiros osrecursos de que eles não estavam mais dispondo", para que continuassem aagir precisamente dentro da mesma lógica de aplicar onde é absolutamente seguro, "a rentabilidade é excelente e a cláusula de recompra assegura liquidez incondicional”.Números do Departamento Econômico do Banco Central mostram que de setembro de 2008 a marçodeste ano a concessão de crédito cresceu 18,3% nos bancos públicos,3,5% nos bancos estrangeiros e apenas 1,5% nos bancos privadosnacionais, apesar da liberação do compulsório bancário (parte dosdepósitos populares retida pelo BC). Só Banco do Brasil, CaixaEconômica Federal e Nossa Caixa compraram carteiras de crédito debancos menores.Embora considere as taxas de recolhimentocompulsório no Brasil “exageradas, abusivas e desnecessárias”,Piscitelli aponta o “paradoxo” da operação na qual o governo devolveudinheiro retido institucionalmente dos bancos para que essas mesmasinstituições possam ganhar mais dinheiro, emprestando ao governo, viaaquisição de títulos públicos. O pior, segundo adverte, é que “muitasvezes esses benefícios são concedidos por prazo ilimitado”.Para ele, “umpouquinho mais de coerência não faria mal aninguém”. Ele  cita que havia (ou há) uma crise, escassez de recursos,custo elevado do dinheiro, um verdadeiro travamento da economia pelafalta de fluxo financeiro para lastrear o fluxo real de riqueza. "Vocêafrouxa a política monetária e as instituições criadas e autorizadas arealizar esse trabalho de irrigação [do mercado financeiro] esterilizamos recursos para isso liberados. Qual é, afinal, o papel dos bancos?”Atentativa de responder a esse questionamento vem do professor demarketing e cultura organizacional da Universidade Metodista de SãoPaulo, Armando Levy. Ele diz que o Brasil é, na realidade, “um paísrefém de bancos” que captam do grande público a taxas ridículas, pagasna poupança, nos fundos de investimento e em certificados de depósitobancário (CDBs) para emprestá-los ao governo, via títulos públicos.Sónessa operação, sem precisar fazer praticamente nada, os bancos ganhamboa parte de seus lucros, pois um exame acurado da “lucratividade” dosprincipais bancos brasileiros mostra que muitos deles têm nessasoperações, ditas de tesouraria, mais de 80% de sua lucratividade. Quetipo de banco competitivo é esse? Talvez “banco parasitário” seria umamelhor qualificação, acrescenta.