Destaque dado à gripe suína na mídia abafa importância de outras doenças, diz pesquisador

07/05/2009 - 18h34

Daniel Mello
Repórter da Agência Brasil
São Paulo - Odestaque dedicado à gripe suína nos meios de comunicaçãoacaba deixando de lado outras doenças, algumas até maisletais. A afirmação é do antropólogo e historiador, CláudioBertolli, para quem a explicação é o fato de a gripe ser uma doença nova. Além disso, lembrou Bertolli, existe ainda uma forte referência no imagináriopopular com relação aos 26 milhões de mortos, em decorrência dagripe espanhola, em 1918.

A grandecifra de mortos da pandemia ocorrida na segunda década doséculo 20 remete à “peste” e ao “apocalipse”,presentes na tradição judaica e na cristã. SegundoBertolli, como o novo vírus ainda é desconhecido, traz umtemor que esta doença possa “colocar em xeque” aexistência da civilização humana. “Ao lado deuma epidemia biológica, há sempre uma epidemia de medo”,destacou.

Porisso, apesar de não ter casos confirmados no Brasil, a gripeacaba sobrepondo a atenção dedicada à dengue, que sóno estado da Bahia matou 49 pessoas e e registra 50 mil casos. Para oantropólogo, isso se motiva principalmente pelo fato do“discurso midiático ser um discurso espetacular”. Na avaliação de Bertolli, os veículos de comunicação tratam deassuntos que fogem do comum, daquilo que é conhecido.

Também estudioso da história das epidemias, o infectologista Stefan Cunha destacou outro fator que faz com que a gripe suína cause mais temor: a cobertura  “em tempo real” da evolução donúmero de casos.

Segundoele, ainda é cedo para determinar a capacidade de contaminaçãoe a letalidade do novo vírus. Apesar de os númerosatuais indicarem para uma taxa de mortalidade de aproximadamente 2,5%(pouco mais de 2 mil casos e 42 mortes), Cunha explicou que ascaracterísticas da população mexicanacontaminada podem ter elevado o número de mortes naquele país.“O que a gente acha é que a população dosmortos no México é uma população maisdebilitada”, destacou.

Acomunicação globalizada, a capacidade de monitoramentoem tempo real, os antibióticos e as drogas antivirais sãoavanços que não estavam presentes na época dapandemia de gripe espanhola e, agora, ajudam a combater a gripe suína.De acordo com Cunha, essas medidas, em conjunto com as açõespara evitar a disseminação da doença, podemdiminuir o possível número de mortos da doença.

O antropólogo Bertolli observou ainda que, em função das evoluções tecnológicas e médicas, háuma tendência de queda na capacidade letal das epidemias aolongo da história.