Escolaridade faz Brasília ser considerada “ilha da fantasia”

20/04/2009 - 8h59

Gilberto Costa
Repórter da Agência Brasil
Brasília - O título de “ilha da fantasia” deve ser a expressão que maisdesagrada ao brasiliense comum, muitas vezes confundido pelo país afora com os políticos que, eleitos nas suas bases, habitam a cidade durante seus mandatos.O termo, no entanto, não é errado quando se avalia aescolaridade e a renda da população do Distrito Federal.Segundo a Pesquisa Nacional porAmostra de Domicílio (Pnad) 2007, quase 60% da população economicamente ativa (PEA) do DF - 774 mil pessoas aproximadamente -concluiu o ensino médio. O dado é bastante superior aoverificado na média brasileira, de 40%. O índicenacional está 15 anos atrasado em relação aBrasília, que completa 49 anos amanhã (21). Segundo análise do Instituto de PesquisaEconômica Aplicada (Ipea), só em 2007 o Brasil seigualou ao percentual que sua capital já desfrutava em 1992 nonúmero de habitantes com mais de 11 anos de escolaridade.Quantoà renda, 17% da população do DF vivem abaixo dalinha de pobreza, de meio salário mínimo percapita. No Brasil, essepercentual é de 35%, como assinala Jorge Abrahão deCastro, diretor de Estudos Sociais do Ipea. Segundo ele, a diferençana escolaridade propicia trabalho com melhor remuneração,como o emprego público. “É uma situaçãodiferenciada. A carreira de Estado, em geral, exige uma formaçãomaior e também remunera melhor”, admite.O quadro educacional e de renda éespecialmente insular na área tombada de Brasília(Plano Piloto) e nas mansões do setor, nas casas dos lagos Sule Norte e nos apartamentos das quadras do Sudoeste e da Octogonal.Conforme pesquisa da Companhia de Planejamento do Distrito Federal(Codeplan), nessas regiões administrativas a taxa deanalfabetismo em 2004 era de 0,6%; apenas 1,6% das crianças eadolescentes estavam fora da escola e mais de 42% dos adultos tinham curso superior completo.Se a situação deBrasília destoa do resto do Brasil, os dados da periferia aaproximam do conjunto da sociedade brasileira. Segundo a mesmapesquisa da Codeplan, nos assentamentos urbanos da Vila Estrutural e deItapoã a taxa de analfabetismo era de 8%, o percentual dapopulação de 7 a 14 anos fora da escola atingiu de 5,4%e o total de adultos com curso superior não passava de 0,3%.Conforme Sérgio Magalhães,da diretoria de Gestão de Informações daCodeplan, “a desigualdade em Brasília é bem demarcadano espaço”. Ele avalia que as diferençassocioeconômicas entre as áreas nobres e a periferia são“o problema sério da capital. Há muita riqueza nasmãos de poucas pessoas. Estamos no primeiro lugar dadesigualdade”, lamenta. Magalhães informa que o Coeficientede Gini de Brasília é de 0,6 - acima do verificado noBrasil, de 0,53. O indicador mede a razão entre a riquezaproduzida e a quantidade de pessoas que a concentra.

Nas contas de SérgioMagalhães, 85% da renda dos brasileiros provêm do trabalho e aremuneração é estabelecida pelaqualificação e a escolaridade. “Onde tem concentraçãode riqueza, há concentração de pessoas maiscapacitadas. Onde há mais pessoas qualificadas, há maischances de pessoas com maior rendimento”.

Para o sociólogo PedroDemo, a capital virou “referência” no país dasdesigualdades sociais. “Ao invés de ser uma capitaldiferente, mais balanceada, menos drástica, acabou seacomodando no mesmo modelo. É uma imagem bem clara do que oBrasil tem sido”, diz, descartando o mito da “ilha da fantasia”.Segundo cálculo do Índicede Desenvolvimento Humano (IDH) das regiões administrativas deBrasília, feito pela Codeplan em 2003, o Lago Sul tinha umíndice melhor do que a Noruega -1º lugar em qualidade devida entre os países, conforme a ONU - e Brazlândia (a 47 quilômetros do Plano Piloto) tinha o 90º lugar, atrás da Tailândia.