Escrivão depõe na CPI protegido por habeas corpus e se recusa a responder perguntas

01/04/2009 - 22h51

Iolando Lourenço
Repórter da Agência Brasil
Brasília - O escrivão do Departamento da Polícia Federal (PF), Walter Guerra Silva, que trabalhou com o delegado Protógenes Queiroz na Operação Satiagraha da PF, disse hoje (1º) em depoimento na Comissão Parlamentar de Inquérito da Escutas Telefônicas Clandestinas que guardou em sua casa um disquete de computador com a cópia dos arquivos da Operação Satiagraha. Ele disse aos parlamentares que fez a cópia do material porque é um hábito dos escrivães da PF ter em mãos as informações das operações que participam.Protegido por um habeas corpus preventivo, o escrivão Walter Guerra se recusou a responder um grande número de peguntas feitas pelos deputados da comissão. Ele disse ser vítima de “perseguição política” e afirmou que não cometeu nenhuma ilegalidade durante a investigação . “Me considero uma pessoa que está sofrendo consequências por ter trabalhado honestamente, e as consequências são de fundo político. Fui indiciado porque houve acesso, por outras pessoas, de uma investigação sigilosa. Eu era subordinado e não observei nenhuma ordem ilegal”, disse.Embora tenha sido indiciado junto com o delegado Protógenes e outros escrivães pelo delegado Amaro Vieira, responsável pelas investigações dos vazamentos de informações da Operação Satiagraha. O escrivão disse que não cometeu qualquer irregularidade. “Acredito que trabalhei de forma honesta, cumprindo ordens. Sempre atuei na legalidade. Tudo que fiz, vi ou ouvi foi dentro da legalidade”, afirmou.Guerra disse ainda que na parte em que trabalhou nenhuma autoridade foi alvo de investigação, mas informou que algumas vezes o investigado fazia ou recebia ligações de autoridades. “Não havia viés político para investigar partidos ou políticos na operação”. O escrivão também contou no depoimento que o juiz Fausto de Sanctis lhe solicitou a lista dos números interceptados durante a operação para verificar se os nomes dopresidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Gilmar Mendes, e do senador Demóstenes Torres (DEM-GO) faziam parte do rol de pessoas investigadas.Durante o depoimento, o escrivão se recusou a responder a muitas perguntas com o argumento de que estava protegido por habeas corpus e se reservava  o direito de ficar calado. “Vou me resguardar o direito de não responder. Vou manter o silêncio. Eu me resguardo o direito de permanecer em silêncio”, disse.Ao ser questionado pelo presidente da CPI, deputado Marcelo Itagiba (PMDB-RJ), se teria sido informado por algum superior que a investigação era de interesse da Presidência da República, o escrivão não quis se manifestar. “Eu me reservo o direito de não responder a pergunta”, afirmou. Ao falar à imprensa, Itagiba disse que se o escrivão não tivesse sido informado “ele poderia ter dito: não houve essa ordem. Mas a partir do momento que ele diz que se cala diante da pergunta, fica claro para mim que de fato ele teria ouvido essa determinação”, avaliou.Para Itagiba, a grande novidade no depoimento do escrivão foi a informação de que os policiais mantém em suas casas arquivos provenientes de investigações com dados totalmente sigilosos. “O que me causa ainda maior estranheza, é em vez de encaminhar tudo à Justiça, guarda-se parte ou a totalidade disso [das informações da investigação] num arquivo pessoal”, afirmou.Marcelo Itagiba também destacou que, no depoimento, Walter Guerra  deu a entender que de alguma forma a Operação Satiagraha teria sido prejudicada  pela nova direção da Polícia Federal, que assumiu no lugar do delegado Paulo Lacerda.