Balanços mostram que crise financeira abalou saúde das empresas brasileiras

27/03/2009 - 19h53

Stênio Ribeiro
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Algumas dasmaiores empresas nacionais divulgaram nos últimos dias seusbalanços do ano passado, e o que se observa sãofortes prejuízos em quase todas, principalmente no quartotrimestre, quando agravou-se crise financeira internacional, com afalência do banco norte-americano de investimentos LehmanBrothers, no mês de setembro.De acordo com o economistaRoberto Macedo, da Fundação Instituto de PesquisaEconômica (Fipe) da Universidade de São Paulo (USP), opior é que os efeitos da crise ainda serão notadosdurante algum tempo, que ninguém sabe quanto: “Esse tipo decrise a gente sabe como começa, mas não comotermina.”Os números reais do mercado mostramprejuízos em diversos setores, como o da Empresa Brasileira deAeronáutica (Embraer), líder mundial na fabricaçãode jatos comerciais até 120 assentos, que viu seu lucro cairde R$ 1,185 bilhão, em 2007, para R$ 428,8 milhões, noano passado – uma queda de 63,8%, porque, por falta de créditono mercado financeiro, as vendas de aviões desabaram.Mas,como ressalta o professor de economia Roberto Piscitelli, daUniversidade de Brasília (UnB), esse éum fenômeno associado a todo o comércio internacional,notadamente no segmento de produtos manufaturados, com maior valoragregado, que é o caso da Embraer. Por ser uma empresa muitogrande, “o impacto é sentido também pelas empresasfornecedoras e gera demissões, com perda de renda dotrabalhador”, explicou o professor.Segundo ele, “houveuma freada brusca da economia, para a qual ninguém estavapreparado”, e cujos efeitos se farão sentir tambémneste primeiro semestre. Piscitelli diz que torce pela estabilizaçãona segunda metade do ano e fala em perspectivas de reversão daqueda dos níveis de atividade econômicano decorrer de 2010. Ele destaca que o Brasil tem grau de aberturaconsiderável e capacidade de se ajustar melhor àsituação, embora dependa mais da recuperaçãoda economia mundial.Para Piscitelli, alguns balançosnegativos já eram aguardados, como foi o caso da Aracruz, quefechou 2008 com prejuízo de R$ 4,194 bilhões, provocadoprincipalmente por perdas financeiras de US$ 2,13 bilhões emoperações com derivativos (títulos podres). ASadia, empresa do ramo da alimentação, tambémdivulgou prejuízo de R$ 2,5 bilhões, contra lucro de R$689 milhões em 2007, em virtude de operaçãosemelhante.Comatuação no mesmo segmento de mercado da Aracruz, aSuzano Papel e Celulose teve perdas de R$ 451 milhões em 2008– no ano anterior havia lucrado R$ 537 milhões. A Suzanoconseguiu bons resultados no primeiro semestre, mas de julho emdiante as vendas começaram a cair. No quarto trimestre, sobimpacto direto da crise financeira mundial, a situaçãopiorou e a empresa teve prejuízo de R$ 495 milhões,ante lucro de R$ 85 milhões no mesmo período de 2007.Porém,nem todos os segmentos de mercado tiveram prejuízos em 2008.Tiveram lucro, apesar da crise, empresas de construçãocivil como a Cyrela Brazil Realty S.A., maior incorporadora do país,presente em 17 estados, e da MRV Engenharia e ParticipaçõesS.A. Mesmo com a queda de receitas no quarto trimestre, a receita daCyrela foi de R$ 2,667 bilhões no ano passado, com expansãode 56,2% em relação a 2007; e a MRV vendeu R$ 1,54bilhão em 2008, com aumento de 115,42% sobre o anoanterior.Outra empresa que apresentou bom resultado em 2008 foia Medidata, integradora de sistemas de informática. No mercadohá 32 anos, a empresa fechou o ano com lucro de R$ 370milhões, ou 39% de aumento em relação a 2007. Emmeio à crise, a receita foi de R$ 129 milhões no quartotrimestre, com evolução de 26,5% sobre igual períodode 2007. O presidente da empresa, Jaques Scvirer, estima crescimentosubstancial também neste ano, principalmente por causa daintrodução de novas soluções emmobilidade e comunicação empresarial.