Baixos salários prejudicam Programa Saúde da Família no Rio, segundo médicos

12/03/2009 - 13h42

Flávia Villela
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - Embora sejaunanimidade entre profissionais da saúde que o Programa Saúdeda Família é fundamental para a melhoria da atençãobásica e do sistema de saúde como um todo, isso nãose reflete em números no Rio de Janeiro. Menos de 4% dapopulação têm acesso ao programa e a maioriasequer conhece a estratégia criada pelo governo federal em1994 e implementada no Rio em 1999. Os baixos salários, naopinião dos profissionais que trabalham no programa, sãoo maior responsável pelo fraco desempenho do programa.Hoje, segundo aSecretaria Municipal de Saúde do Rio, a cidade possui 132equipes completas: médico, enfermeiro, técnico deenfermagem e agentes comunitários - sem odontologista. Outras187 equipes estão incompletas, devido à falta demédicos. Por isso, não são reconhecidas peloMinistério da Saúde.Coordenador daunidade do PSF de Nova Brasília, zona oeste da cidade, omédico Oscarino dos Santos Barreto Jr. diz que o saláriode aproximadamente R$ 5 mil para uma jornada de 8 horas diáriasde trabalho é pouco, principalmente se levado em conta que amaioria dos locais que o programa cobre fica em áreasconsideradas violentas. O salário mínimo instituídopela Federação Nacional dos Médicos (Fenam) éde R$ 8.239,24 para 20 horas de trabalho semanais.“Com uma cargahorária de 40h horas semanais, o salário tem que sermuito bom, pois o profissional não tem como ter outra fonte derenda. Além disso, os locais são geralmente em áreade risco, o que é um agravante e inibe o interesse doprofissional”, explica o médico. “Estou aqui porqueacredito no programa e o retorno do meu trabalho érecompensador,” completa.Barreto conta que aunidade chegou a ser fechada várias vezes em julho de 2007,devido a intensos conflitos entre policiais e traficantes de drogasno Complexo do Alemão.A médica defamília Jane de Castro explica que hoje os médicospreferem trabalhar em emergências, onde a jornada é de20 horas. “E o restante do tempo complementar o salário complantões ou em consultório próprio. A atençãobásica voltada para a prevenção de doençasacaba ficando em segundo plano por conta do salário poucoconvidativo”.Barreto explica queos profissionais que permanecem no PSF acabam fazendo uma carreira,criando um misto de paixão pelo trabalho e satisfaçãomuito grande pelo retorno que a comunidade dá. “Osresultados aparecem em pouco tempo: desde que estamos aqui, háquatro anos, vimos a redução dos índices demortalidade infantil, a redução dos problemas empacientes hipertensos e diabéticos, a prevençãodo câncer de colo uterino, entre outros. E a gratidãodeles (pacientes) conosco não tem preço”, declara omédico orgulhoso.O Coordenador dePolíticas e Projetos da Superintendência de AtençãoBásica e Gestão do Cuidado (Sesdec/RJ), Pedro Lima,informou que a questão salarial é um dos pontosimportantes para a atual gestão. “Queremos expandir acobertura do PFS para 70% da população até 2012e estamos estudando um novo plano de gestão que vai contemplartambém a melhoria dos salários.”