Editoras e autores já estão se adaptando ao Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa

21/12/2008 - 14h59

Flávia Albuquerque
Repórter da Agência Brasil
São Paulo - Com a entrada em vigor das novas regras do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa no dia 1º de janeiro de 2009, escritores e editoras já estão se adaptando para acompanhar as mudanças. As editoras, revisando e reeditando livros didáticos e dicionários, em princípio, e os escritores revisando suas obras em andamento ou modificando a forma de escrever suas novas obras. O acordo foi elaborado há 18 anos e finalmente entra em vigor para unificar a ortografia nos sete países que integram a Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP). O Brasil será o primeiro a adotar oficialmente as novas regras.Para o escritor Jorge Antônio Ribeiro da Silva, a mudança acarretará um trabalho considerável aos autores, que terão de se adaptar às regras novas de grafia, mudar e acrescentar itens. “Os escritores terão que revisar toda a obra que já está escrita. O autor que não está vinculado a uma editora terá que fazer a revisão por si mesmo”. Ele destacou que no caso daqueles que já têm sua editora, os próprios revisores serão responsáveis por isso. “Essas mudanças criarão um grande problema para as editoras, que terão alto custo para alterar todas as suas obras. Os escritores que escreverão livros novos terão que mandar a obra para a editora mais ou menos pronta, a fim de facilitar o trabalho de todo mundo”. A escritora Cristiana Soares acha que as mudanças propostas são desagradáveis porque já há uma identidade inserida na língua portuguesa falada no Brasil. Apesar de não serem tantas mudanças, ela disse que só começará a se preocupar com elas no dia 1º de janeiro. “Até então, estarei deixando a escrita fluir do jeito que estou acostumada. Aqueles que foram alfabetizados com as regras antigas terão dificuldade para se adaptar”, analisou.Segundo a presidente da Câmara Brasileira do Livro (CBL), Rosely Boschini, a entidade realizou diversos encontros com as editoras para explicar quais seriam as mudanças e tirar dúvidas sobre o processo de adaptação ao Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa. “Paulatinamente, as editoras estão fazendo esse preparo para as mudanças de sua estrutura. Os novos livros didáticos que serão utilizados pelo governo, por exemplo, já foram editados dentro da nova ortografia”. Rosely lembrou que a CBL espera a finalização do dicionário da nova ortografia, que está sendo elaborado pela Academia Brasileira de Letras (ABL) e que será referência para essas novas regras. “Mas, dentro do mundo editorial, estamos fazendo essas alterações acontecerem. E a partir do ano que vem, os jornais já estarão dentro dessa nova ortografia, e acho que os livros acompanharão isso aos poucos”. Para ela, o Brasil será o grande beneficiado por esse processo, que vai criar grande oportunidade para o mercado editorial ter seus livros publicados nos outros países da CPLP.De acordo com o diretor-geral da Melhoramentos, Breno Lerner, o processo de adaptação da editora começou no início do ano, quando as chances de a reforma ortográfica se concretizar ficaram mais claras. Para acompanhar e agilizar as adaptações, a editora recrutou e treinou revisores de texto. “A partir daí, nos preocupamos principalmente com os nossos dicionários, que iriam ser utilizados pelas escolas a partir de janeiro do ano que vem. Secundariamente, vêm os livros destinados à escola. Nós conversamos com uma série de escolas e descobrimos que elas vão implantar a reforma gradualmente, dos primeiros anos em diante, e esses livros foram os primeiros a serem trabalhados”.Para Lerner, a reforma ortográfica não tem efeitos práticos para a população ou para a própria língua. Ele afirmou que não concorda com as razões que foram alegadas. “Não creio que haverá maior circulação de livros entre os países que falam a língua portuguesa, porque só mudou a ortografia, o vocabulário é o mesmo, as regras gramaticais são as mesmas. No Brasil se utiliza o gerúndio, em Portugal não. Afora os ganhos políticos que se terá com essa reforma, não entendo as vantagens dela, só os custos”. Ele destacou que apenas para alterar o banco de dados dos dicionários, a empresa terá um custo próximo de R$ 1 milhão.