Tom acirrado não deve romper base de Lula na Bahia, avalia cientista político

25/10/2008 - 22h40

Luciana Lima
Enviada Especial
Salvador - As eleições em Salvador ganharam um tom acirrado coma disputa dentro da base de sustentação do governo federal. No entanto, os ataques mútuos entre os candidatos João Henrique Carneiro (PMDB) e Walter Pinheiro (PT)  não devem comprometera unidade  dos partidos que apóiam o presidente Luiz Inácio Lula da Silva na capital e em todo o estado da Bahia, diz o  cientistapolítico Paulo Fábio Dantas Neto, professor da Universidade Federal da Bahia(UFBA).“Primeiro que o que se fala em uma campanha não se escreve,não permanece. A elite política baiana tem uma grande tradição de conciliação”,destacou o professor.No entanto, Dantas ressalta que não se pode olhar essacaracterística como um ponto positivo simplesmente. Ele lembrou o “estilotruculento”, próprio do senador Antônio Carlos Magalhães, morto no ano passado eque durante décadas impôs essa forma de fazer política no Estado.“A política seguida durante décadas na Bahia foimuito de antecipação para evitar os conflitos. Cooptação, conciliação,acomodação sempre foram a regra. Evidentemente, sobrando retaliação, sobrandoperseguição para aqueles que não se enquadrassem no script. Foi assim queAntônio Carlos Magalhães comandou a Bahia durante décadas. Claro que essapolítica de acomodação tinha na sua estratégia o objetivo de fortalecer o seupoder pessoal. Ele conduziu esseprocesso durante anos, mantendo em torno de si um conjunto de aliados rivais, ou de rivaisaliados. Isso é um estilo de política que só aparentemente seria incompatívelcom o estilo truculento. Ao contrário. As duas coisas fazem parte da mesmapolítica”, destacou o professor, autor do livro “Tradição, autocracia ecarisma: a política de Antonio Carlos Magalhães”.Para Dantas, a atuação do ministro da Integração Nacional, Geddel VieiraLima, apoiador de João Henrique, atual prefeito de Salvador e candidato à  reeleição, encontra base naforma carlista de fazer política. No segundo turno, João Henrique recebeu apoiode Antônio Carlos Magalhães Neto (DEM), candidato derrotado nas urnas noprimeiro turno, mas herdeiro do carlismo e dono de 27% dos votos na capitalbaiana. Geddel disse, nesta semana, que gostou da parceria e que tentariaservir de “ponte” entre ACM Neto e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, numaclara tentativa de isolar o PT estadual e o governador Jaques Wagner naarticulação política com o governo federal. “Não considero nenhuma surpresa se o ministro Geddel estivertrabalhando nessa direção. O que não significa dizer que os seus projetos e osprojetos do DEM estejam no mesmo rumo. Isso tem um poder evidente de pressãosobre o governo do estado, mas as chances disso vingar na política nacional sãopequenas”, considerou.O professor lembrou que ACM praticou a política daconciliação em um período de ditadura militar ou de transição democrática,momento em que os partidos políticos não tinham a “musculatura” que têm hoje.Atualmente, para Dantas, o formato da política brasileira aponta no sentidooposto. Cada dia mais os partidos ganham mais importância no jogopolítico e no jogo decisório do país, de acordo com  avaliação de Dantas. “Cada dia mais os partidos se consolidam, cada dia maisconseguem pontos para se tornarem mais coesos e cada dia menos existe espaçona política brasileira para estratégias que dependam do fracionamento dospartidos. A importância da política institucional dos partidos é muito grande, eo ministro Geddel sabe disso. Ele é ministro de Lula hoje especialmente porcausa dessa política institucional”, disse o professor, lembrando que Geddelfazia parte da ala oposicionista do PMDB.O discurso para justificar a ação “conciliadora”, segundoDantas, é o mesmo das últimas décadas. “É trabalhar a idéia da Bahia homogênia,da Bahia mais próxima possível da unanimidade, da Bahia que pensa igual à suaelite, que não tem conflitos, enfim, a Bahia una. Esse foi o grande discursoconciliador, mas é claro que temos aí a mais pura política truculenta parafortalecer o poder pessoal”, explicou.