Alana Gandra
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - A falta de acesso a óculos encabeça a lista das maiores causas dacegueira no país, de acordo com pesquisa inédita que será divulgada durante o 18º Congresso Brasileiro de Prevenção da Cegueira e ReabilitaçãoVisual, que o Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO) realiza apartir do próximo dia 3 de setembro, em Florianópolis (SC).“Por incrível quepareça, isso acontece em lugares remotos onde o pessoal não tem acessoa óculos”, afirma o oftalmologista João Luiz Lobo Ferreira, co-presidente do evento. Em seguida, vêm doenças como a catarata, o glaucoma,diabetes, além da degeneração macular associada à idade.O objetivo da pesquisa é mostrar aimportância de se elaborar políticas públicas que previnam acegueira. “O mais importante desse trabalho é que os fatores quelevam à cegueira nas diversas regiões serão apontados. Isso alerta osgestores de saúde para se dar uma atenção especial para aquelasdeterminadas doenças”. Tratamento e tecnologia são apontados por Ferreira como as armas para se evitar a cegueira. De acordo com o especialista, há algumas causas que podem ser prevenidas,cuidando-se precocemente das doenças. Outras, podem ser revertidas comcirurgia, como é o caso da catarata. Ele afirmou que existem causas que devem ser observadas e cuidadas, como o caso de prematurosque nascem com menos de 1.500 gramas. “Se ele não for acompanhado nasquatro ou seis primeiras semanas de idade, ele pode também ficar comcegueira.”De acordo com o Conselho Brasileiro deOftalmologia, existem atualmente no Brasil 1 milhão de cegos e 4milhões de deficientes visuais. A maior incidência de cegueira éregistrada nas regiões menos favorecidas economicamente. “Porque 90% das pessoas com cegueira têm uma menorremuneração, um menor acesso à saúde, à educação”, afirmou Ferreira. Nas regiões Sul e Sudeste, as áreas menos favorecidas emais remotas também têm uma maior incidência de cegueira. “Por falta deinformação, por falta de acesso à medicina, à tecnologia”, destacou o médico.Aregião brasileira que apresenta o maior número de pessoas com catarataé a Nordeste. O médicodestacou, porém, que o CBO obteve grande sucesso na região durante recente campanha de esclarecimento sobre a doença. É preciso, contudo,que haja a manutenção das medidas de atenção à população, salientou.Jáo glaucoma é encontrado nos estados que têm maior população negra, comoa Bahia. “Entre os negros,é mais comum o glaucoma. Da mesma forma, entre os brancos, é mais comum adegeneração macular relacionada à idade”, afirmou o oftalmologista. O hábito de uma vida saudável, evitando cigarros e bebidas, pode afastar dos brasileiros a ameaça da cegueira. A orientação à população também é importante para a prevenção. O oftalmologista afirma que doenças como a degeneração de mácula, por exemplo, pode ser agravada pelo cigarro. “Então, é uma coisa multifatorial. Às vezes, a pessoa tem uma predisposição genética, mas o hábito de vida dela é mais saudável que de outra. Uma avaliação periódica é importante. O cigarro e a bebida em excesso são um alerta”, avaliou.As pessoas cegas podem ser definidas como aquelas que têm uma visão 20% menor que as demais. Ou ainda as que possuem um ângulo de visão inferior a 10%. João Luiz Ferreira explicou que o deficiente visual, por sua vez, tem uma visão melhor, “consegue fazer alguma coisa, mas tem deficiência importante de visão”.Fatores como diabetes e pressão alta também podem trazer risco de cegueira, alertou o especialista. Ainda segundo ele, se a diabetes for bem controlada, as chances de o paciente vir a ter cegueira são bem menores. O mesmo ocorre no caso da pressão alta. “Se o doente não é acompanhado clinicamente, ele tem um fator agravante. E se ele tem glaucoma associado, pior ainda. Mas, quando a pessoa se cuida, ela tem menor chance de ficar com cegueira”, alertou.