Governadores evitam falar sobre transposição do São Francisco

25/07/2008 - 20h15

Luciana Lima
Enviada Especial
Teresina (PI) - A obra de transposição das águas do Rio São Franciscoé tratada como tabu pelos governadores do Nordeste em suas reuniõespara definir o modelo de desenvolvimento comum para a região. Apesar deser a obra de infra-estrutura que mais atinge de forma direta apopulação nordestina, principalmente as pessoas que vivem nosemi-árido, os governadores dos estados do Nordeste, reunidos hoje(25), em Teresina, no Piauí, evitaram o assunto.Nem a presença Geddel Vieira Lima,  ministro daIntegração Nacional, pasta responsável por tocar a obra, tida comoprioridade do governo federal, foi suficiente para vencer o bloqueio dese falar sobre o assunto. O próprio ministro, nascido naBahia, que seria um doador de águas, já se colocou como um grandecrítico da obra. No entanto, ao assumir a pasta disse que iria executaro projeto.O governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), usoude bom humor para responder aos questionamentos na presença de seuscolegas: “Quanto à transposição, eu vou poupar Déda [Marcelo Déda, do PT, governador do Sergipe] de falar. Se ele falar, vai falar mal e eu nãogostaria de fosse assim”, brincou Campos.O tom de brincadeira logo se desfez quando Dédacomeçou a falar, e ficou clara que a divergência é evidente entre os estadosdoadores de água – como Bahia e Sergipe -, e os receptores, como Pernambucoe demais estados da região do semi-árido.“Nós temos tido durante todo esse período bastantejuízo para não colocar na agenda desse fórum, temas que nos dividem,temas que possam prejudicar o melhor capital que nós formamos nesse umano e seis meses de nossos mandatos: a nossa unidade em torno de umaagenda comum a favor do desenvolvimento econômico e social doNordeste”, disse o governador de Sergipe, em entrevista coletiva, após o 8º Fórum de Governadores do Nordeste. Déda classificou o tema de “desagregador” e, porisso, digno de ser evitado na reunião. “Todos têm as suas convicções,todos têm as suas críticas. Mas é preciso que nós nunca tenhamosenvolvimento do fórum, nem a favor nem contra. Até porque, os que sãoa favor seria maioria. Em respeito à população de estados doadores, comoa Bahia e Sergipe, nós resolvemos que esse tema aqui desagrega e nãodeveria ser prioridade”, disse Déda.  “As posições de cada estado sobre a obra são muitoconhecidas. Essa posição se mantém, mesmo com o governo executando aobra”, completou.Campos e Déda, no entanto, garantem que asdivergências influenciam no andamento do projeto. As obras compreendema construção de canais, barragens, adutoras e estações de bombeamento,orçadas em R$ 3,3 bilhões.O objetivo do governo é assegurar a oferta de água,em 2025, a cerca de 12 milhões de habitantes de pequenas, médias egrandes cidades da região semi-árida dos estados de Pernambuco, Ceará,Paraíba e Rio Grande do Norte. Para isso, o governo defende a retiradacontínua de 26,4 metros cúbicos de água por segundo, o equivalente a 1,4% da vazão garantidapela barragem de Sobradinho (1.850 metros cúbicos por segundo) no trecho do rio onde se dará acaptação, de acordo com informações do projeto.Este montante hídrico será destinado ao consumo dapopulação urbana de 390 municípios do Agreste e do Sertão dos quatroestados do Nordeste Setentrional. As bacias que receberão a água do rioSão Francisco são: Brígida, Terra Nova, Pajeú, Moxotó e Bacias doAgreste em Pernambuco; Jaguaribe e Metropolitanas no Ceará; Apodi ePiranhas-Açu no Rio Grande do Norte; Paraíba e Piranhas na Paraíba. Os estados de Sergipe e Bahia temem que com a transposição passem a ter problemas de abastecimento.