Subsídio indireto em energia garante competitividade da Vale, diz campanha

05/09/2007 - 7h56

Daniel Merli e Stênio Ribeiro
Repórteres da Agência Brasil
Brasília - A Companhia Vale do Rio Doce teve seu valor de mercado multiplicado por oito desde que foi privatizada, em 1997. E alcançou, no primeiro semestre deste ano, o maior lucro da América Latina, segundo levantamento da consultoria Economática. Um dos motivos da alta competitividade da Vale, segundo os movimentos sociais que defendem a reestatização da empresa, é a abundância e qualidade da bauxita encravada em solo brasileiro, usada como matéria-prima para o alumínio.Outro ponto, segundo essas organizações, é o fato de a empresa pagar, em média, R$ 0,05 por kilowatt-hora, enquanto o preço máximo em outros países é de R$ 0,72, segundo organizadores da campanha A Vale é Nossa. O baixo preço da tarifa é uma vantagem comparativa importante no mercado internacional de siderurgia, um setor chamado de eletrointensivo por consumir altos volumes de energia. A Vale, sozinha, consome 5% da energia produzida no país.Além de obter energia mais barata que suas concorrentes no exterior, a Vale paga até 80% menos que o cidadão comum. Essa diferença é fruto do modelo energético brasileiro, segundo o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), uma das organizações integrantes da campanha. E é modelo energético brasileiro que garante parte do poder de concorrência internacional da companhia.“Sem dúvida, esse baixo preço da energia é um diferencial competitivo para a Vale”, avalia Gilberto Cervinski, do MAB. Para ele, o fato de os consumidores pagarem até 500% a mais pela energia representa uma espécie de subsídio indireto. "Todos nós pagamos a conta pela geração e distribuição de energia elétrica, enquanto alguns poucos tiram proveito".O potencial hidrelétrico do país faz da energia brasileira uma das mais baratas do mundo, segundo  Cervinski. E, junto com as reservas minerais, torna o país o ponto de partida ideal para a exportação de alumínio. “Essa empresa, que atualmente tem a maior parte de seu capital na mão de estrangeiros, aproveita o baixo custo da energia brasileira, enquanto o povo mais uma vez paga a conta”"Há um modelo de organização da indústria elétrica brasileira que cria as condições para que os grandes consumidores consigam energia a um preço bem menor que o consumidor comum", concorda Dorival Gonçalves Jr., professor da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT).O modelo descrito por Dorival é dividido entre 700 empresas, que consomem 25% da energia brasileira, e o resto do país, que é responsável por 75% do consumo. “Essas grandes empresas não compram energia das distribuidoras. Pelo modelo energético brasileiro, vão ao mercado livre de energia, onde conseguem comprar praticamente a preço de custo”. As distribuidoras que entregam energia às residências não compram no mercado livre, mas em leilões organizados pelo governo.Cervinski considera que as estatais de energia aceitam a barganha dos grandes consumidores no mercado livre, vendendo a energia quase a preço de custo. “O Estado acaba oferecendo, via estatais, um preço muito baixo”, afirma o militante do MAB, que vê ligação entre esse fato e as doações de campanha das empresas eletrointensivas Procurada pela Agência Brasil, a Vale não quis comentar seu consumo de energia. A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), que determina as tarifas, e o Ministério de Minas e Energia, que determina a política energética do país, também não quiseram comentar a crítica. O modelo energético brasileiro é regido pela lei 10.848, sancionada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2004.O Plebiscito da Vale, que está sendo realizado entre os dias 1º e 7 de setembro, é a terceira consulta popular organizada por movimentos sociais no Brasil. Seis milhões de brasileiros votaram na consulta sobre dívida externa, em 2000, e 10 milhões votaram na consulta sobre a Área de Livre Comércio das Américas (Alca), em 2002.