Mercado de carbono é inacessível a pequenos empreendedores, diz pesquisador

07/11/2006 - 16h41

Thais Brianezi
Repórter da Agência Brasil
Manaus - Na avaliação do pesquisador Marcelo Rocha, apesar do mercado de carbono ser divulgado como promissor, ele é inacessível aos pequenos empreendedores. “O que inviabiliza os projetos de pequena escala é o custo a curto prazo e o retorno a longo prazo. Sem o apoio do governo, empresas ou Organizações Não-Governamentais, os pequenos empreendedores brasileiros estão fora desse mercado”.Segundo Rocha - que é especialista em mercado de carbono e atua no Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Escola Superior de Agricultura Luís de Queiroz (Esalq) e na organização não-governamental Instituto de Pesquisas Ecológicas (Ipê) - a expectativa de ganho econômico em relação aos projetos de carbono estão superestimadas. "É preciso baixá-las e aumentar as expectativas social e ambiental”.Ele diz que as Reduções Certificadas de Emissão (RCEs, popularmente conhecidas como créditos de carbono) não pagam os projetos de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL). Apenas iniciativas registradas e aprovadas pelo conselho executivo do MDL podem vender compensações de gases de efeito estufa a países desenvolvidos. Esses países precisam reduzir em média 5,2% de suas emissões, até 2012, no âmbito do Protocolo de Quioto. “As RCEs devem ser encaradas como um ganho a mais, uma forma de reduzir o custo da atividade sustentável”, defendeu Rocha.Para que possam emitir RCEs, a metodologia e a proposta dos projetos devem ser validadas por uma entidade operacional designada, que funciona como uma empresa privada certificadora. “Esse serviço é caro e ainda não existe um fundo para atender pequenos projetos”, contou Rocha. “A grande possibilidade dos pequenos produtores é que o comprador dos créditos financie todo o processo. Mas, até agora, o mercado tem mostrado preferência por projetos de grande escala”.A falta de informações e excesso de propaganda sobre o mercado de carbono têm gerado expectativa nos pequenos produtores. O engenheiro florestal Celso Luiz Ambrosio, que trabalha na superintendência do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) em Roraima, contou ter recebido, há duas semanas, um telefonema de uma pessoa animada com os supostos lucros potenciais do reflorestamento. “Ele me falou que o cunhado havia comprado terras para plantar eucalipto e queria vender o crédito do carbono, mas não sabia para quem”.Edna Mirada Ferreira é engenheira agrônoma e chefe do Serviço de Patrimônio Indígena e Meio Ambiente da administração regional da Fundação Nacional do Índio (Funai) em Belém. Segundo ela, no segundo semestre de 2005 os índios Tembé foram surpreendidos por representantes da ONG inglesa Amazon Rainforest Foundation, que estava interessada em apoiar projetos de reflorestamento na área. “Eles chegaram falando em seqüestro de carbono, e a comunidade indígena passou a achar que ia ficar rica plantando árvores”, criticou Ferreira, acrescentando que o projeto da ONG está sendo analisado pelo Ministério Público Federal.