Conferência Indígena põe duas lógicas políticas frente a frente, destacam participantes

15/04/2006 - 16h51

Ana Paula Marra
Repórter da Agência Brasil

Brasília – "Para nós, escolher um único representante é complicado, pois o povo indígena se integra coletivamente", desabafa Azelene Kaingang, presidente do Instituto Indígena Brasileiro (Warã). Liderança indígena de seu povo, ela tem a difícil missão de também organizar a Conferência Nacional dos Povos Indígenas, que levará as reivindicações do setor ao governo federal.

Azelene compara as duas lógicas colocadas em convivência nesta conferência, na capital federal. Para ela, enquanto os índios se organizam coletivamente, elegendo diversas lideranças, os não-índios se organizam "de forma homogênea", muitas vezes optando por escolher um único representante.

Essa diferença, segundo Azelene, vem contribuindo muito para emperrar as negociações e dificultar o atendimento às demandas indígenas por parte dos governantes brasileiros. As dificuldades existem, na avaliação dela, porque os homens brancos ainda não conseguiram aceitar e reconhecer as formas tradicionais de representação dos povos indígenas.

"Entendemos que quanto mais a gente diminui o número de pessoas que participa de uma determinada decisão, a gente corre o risco de esquecer, de deixar de fora coisas importantes", defendeu. "Coletivamente, nós pensamos melhor e mais".

Eleger um representante indígena, na avaliação de Azelene, significa "um exercício e um desafio de vencer as diferenças culturais, que, as vezes, impedem de se chegar a um determinado consenso".

Azelene avalia que à medida que a sociedade impõe suas formas de representação política, cada vez mais as organizações indígenas se enfraquecem e se tornam menos representativas e menos legítimas. "Eu acho que o grande desafio é saber entender a forma de representação dos indígenas", disse.

O indigenista e coordenador do Censo Nacional Indígena, Hugo Meirelles, também não tem dúvida de que diferença na forma de se organizarem politicamente dificulta a relação entre os dois povos. "Eu acredito que falta ainda pessoas que tenham sensibilidade para conseguir tratar com os índios e puxar qual é a real necessidade deles", destacou.