Viagem é mais importante para programa espacial do que para pesquisas, diz técnico do CNPq

09/04/2006 - 14h25

Jansen Campos
Repórter da Agência Brasil

Rio – A viagem do astronauta Marcos César Pontes trará mais resultados para a imagem do programa espacial brasileiro do que para as pesquisas em si. Essa é a avaliação do analista de ciência e tecnologia do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Edmilson de Jesus Costa Filho, em entrevista ao programa Notícias da Manhã, da Rádio Nacional do Rio de Janeiro.

Segundo ele, desde o acidente na plataforma do Veículo Lançador de Satélites (VLS), que matou 22 técnicos em 2003 em Alcântara (MA), as atividades espaciais brasileiras têm ocupado espaço negativo nos meios de comunicação, refletindo-se em descrédito da opinião pública. "A ida do astronauta traz ao debate a importância de se investir em pesquisas espaciais. Ter um astronauta brasileiro está despertando um orgulho e interesse muito grandes. A viagem de Pontes é muito relevante no aspecto do marketing, de ressaltar, na mídia, a importância positiva que o programa espacial traz", afirmou.

Sob o aspecto científico, para o analista da CNPq, a viagem do astronauta ao espaço não tem muito a acrescentar ao Brasil. "Como não temos centro de treinamento de astronautas, é muito provável que o conhecimento que ele [Pontes] ganhou e as novidades que ele trouxe do espaço não sejam implementadas no Brasil, ou mesmo compartilhadas por outras pessoas. A viagem do Marcos Pontes não estava, de forma prioritária, colocada no nosso Programa Nacional de Atividades Espaciais, que coordena toda política espacial brasileira", afirmou.

Também faz parte do acordo entre Brasil e Rússia, segundo Costa Filho, a transferência tecnológica, além da viagem de Pontes. "A Rússia tem tecnologia, mas não tem dinheiro para desenvolver seu programa espacial. Assim, os russos têm fechado acordos para captar recursos financeiros, como eventual envio de turistas e astronautas de outros países ao espaço, e nas parcerias tecnológicas", disse.

O acordo com o Brasil também prevê assistência tecnológica para suprimir as falhas de engenharia do Veículo Lançador de Satélite (VLS). "O Brasil pagou uma quantia pelo vôo do Marcos Pontes, estimada em U$10 milhões, e mais outra fatia para que os técnicos russos ajudem os brasileiros na correção de falhas do projeto de engenharia do VLS. Acredito que, em dois anos, teremos um vôo com sucesso do nosso lançador", informou.