Tribunal transfere para Justiça federal investigação sobre assassinato de índios truká

04/04/2006 - 16h50

Aloisio Milani
Repórter da Agência Brasil

Brasília – O Tribunal Regional Federal da 5ª Região aceitou a federalização das investigações da morte de dois índios truká, assassinados pela Polícia Militar em maio do ano passado, na aldeia do município de Cabrobó, em Pernambuco. A decisão acatou o pedido do Ministério Público Federal.

Segundo nota oficial do tribunal, o procurador regional da República Fábio George Cruz da Nóbrega justifica a decisão alegando que esses assassinatos não foram casos isolados, mas resultado de um processo histórico de discriminação e do convívio tenso entre os índios e a Polícia Militar.

Os dois índios, Adenilson dos Santos Vieira, de 38 anos, e seu sobrinho, Jorge Adriano Ferreira Vieira, de 17 anos, foram mortos a tiros quando participavam de uma festa junina com mais de 400 pessoas e após a visita oficial de representantes do governo federal. As mortes aconteceram depois de protestos contra a entrada da polícia na área.

À época, em entrevista à Agência Brasil, a antropóloga e educadora do Centro de Cultura Luiz Freire Caroline Mendonça explicou que o conflito entre os indígenas e a Polícia Militar começou em 1999, quando os Truká conseguiram que os 124 posseiros residentes saíssem das terras consideradas tradicionais da Ilha de Assunção, uma área de 6.200 hectares. Cerca de 3.500 índios dessa etnia vivem hoje na ilha.

Desde então, a polícia tem executado diversos mandados de prisão contra lideranças por acusações de roubo de gado e formação de quadrilha. Os índios se defendem e acusam a polícia de perseguição e violência. Em maio de 2005, uma das principais lideranças do povo, Aurivan dos Santos Barros, conhecido como Neguinho Truká, foi preso enquanto prestava depoimento à Polícia Federal na cidade de Salgueiro. Ele é irmão e tio dos dois índios mortos pela Polícia Militar.