Apenas uma de cada 11 crianças com até 4 anos freqüenta creches, aponta MEC

09/01/2006 - 19h17

Alessandra Bastos e Milena Assis
Da Agência Brasil

Brasília – A ausência de investimentos em educação infantil prejudica a sociedade de forma geral, aumenta a criminalidade e onera o Estado, segundo a pesquisa "Educação da Primeira Infância", da Fundação Getúlio Vargas (FGV). No dia a dia, isso se reflete em problemas como a falta de creche, para crianças de 0 a 3 anos, o que pode comprometer o futuro educacional de quase 90% das crianças brasileiras.

Dados do Ministério da Educação mostram que apenas 9,43% (praticamente uma em cada 11) das crianças com até 4 anos freqüentam creches e 61,36% das crianças de 4 a 6 anos estão matriculadas na pré-escola.

"É nessa idade que temos o processo de preparação para a aprendizagem, quando a criança se prepara para o conhecimento. É muito importante a presença da criança na escola", destaca o ministro interino da Educação, Jairo Jorge.

A atendente de restaurante Maria da Guia Rodrigues, que tem 37 anos e mora da cidade-satélite Samambaia (DF), paga R$ 100 de seu salário de R$ 680 para uma outra pessoa cuidar do filho caçula. A criança tem 8 meses.

Maria da Guia, que já foi casada e hoje sustenta os filhos sozinha, diz que só tem tempo para ficar com os filhos à noite. Por isso, segundo ela, é fundamental poder contar com creches e escolas. "O governo, em primeiro lugar, tinha de procurar saber onde faltam creches porque a gente procura e não encontra", reclama. O ministro ressalta que a "universalização da creche não existe nem em países avançados, como os Estados Unidos e a Suíça. Mas nós podemos avançar por meio do Fundeb [Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação]".

A atendente de restaurante afirma que as creches precisam estar "perto de onde a mãe trabalha e devem ser gratuitas porque muitas mães não têm condições de pagar". A preocupação de Maria, segundo ela, tem a ver com a sua experiência anterior. O filho mais velho, de 19 anos, está três anos atrasado nos estudos e fará, agora, o segundo ano do ensino médio.

"Quando era menor, ficava sozinho em casa, ia para a escola e se virava. Acho que ele reprovou por eu não ter tempo para ficar em casa acompanhando, para ensinar, incentivar", contou ela.

Já a auxiliar de serviços, Silene de Fátima, relata que o filho, de dois anos, está desde os cinco meses em uma creche pública. Eles moram no município de Três Pontas (MG). "As vantagens são muito boas porque têm as recreadoras, as turmas separadas, alimentação no horário certo, eles dormem, brincam, é muito bom. Trabalho mais sossegada de saber que ele está em boas mãos. Não teria condições de pagar outra escola", diz ela, que informou ganhar cerca de R$ 300 por mês.

A creche traz para Silene não apenas o sossego momentâneo, mas também a segurança da continuidade dos estudos. "Além da creche, lá tem a escolinha de 4 e 5 anos. Ele vai sair bem preparado de lá."