Brasília, 31/12/2003 (Agência Brasil - ABr) - Embora desempenhem papel fundamental na fertilização da terra, na recuperação dos solos e na produção de alimentos, as minhocas ainda são pouco estudas. Trocas informações e apresentar estudos sobre elas foi um dos objetivos do 1º Encontro Latino-Americano de Ecologia e Taxonomia de Oligoquetas que reuniu este mês, em Londrina (PR), pesquisadores de vários países. Um dos temas do encontro foi debater a diversidade e distribuição da minhoca na América Latina e identificar as espécies com potencial de uso na produção de grãos, flores, frutas e hortaliças.
Promovido pela Embrapa, o reuniu especialistas dos Estados Unidos, França, Alemanha, México, Cuba, Venezuela, Colômbia, Porto-Rico, Argentina, Uruguai Peru e Brasil, que buscaram também estabelecer uma metodologia de pesquisa.
As minhocas atuam como verdadeiras engenheiras, adubando o solo e abrindo caminhos para a infiltração de água. Elas passam a vida perfurando o solo e transformando terra e lixo orgânico num produto rico em nutrientes e de fácil assimilação pelas plantas: o húmus. Graças a esse trabalho, o solo que lhes serve de alimento é devolvido na forma de matéria orgânica com onze vezes mais potássio, sete vezes mais fósforo, cinco vezes mais nitrogênio e o dobro de cálcio e magnésio.
Surda, muda, cega e sem sentido de direção, a minhoca tem o tato e o paladar bastante desenvolvidos. Ela usa uma espécie de cunha (prostômio) para abrir galerias e alcançar seu alimento, que depois são digeridos e expelidos em forma de bolotas fecais - o valioso húmus -, cuja composição química contém matéria orgânica (42 a 56%), potássio (1,44 a 2,23%), cálcio (5,44 a 7,26%), magnésio (0,88 a 1,32%), ferro (0,82 a 1,84%), fósforo (1,42 a 3,82%), nitrogênio (1,66 a 2,04), manganês (552 a 767), zinco (418 a 1235) e cobre (193 a 313).
A minhoca é hermafrodita (tem órgãos sexuais masculino e feminino), mas são necessários dois indivíduos para a reprodução. Sua atividade sexual começa aos 50 dias de idade e dura por toda a vida, que pode variar de 2 a 4 anos. A taxa de reprodução é altíssima: diariamente, a minhoca põe de um a dois casulos contendo de 2 a 10 ovos. Com base no crescimento populacional geométrico, os pesquisadores estimam que uma minhoca se transforme em 3 mil minhocas/ano.
Mesmo com tantas informações, a importância das minhocas para o solo e para a produtividade vegetal ainda é pouco conhecida na América Latina, que abriga cerca de 500 das 3.600 espécies conhecidas e cujos tamanhos podem variar de 0,5mm até 3,30 metros (minhocoçu da Austrália). No Brasil a maior espécie é o minhocoçu de Minas Gerais, que pode atingir 2,10 metros de comprimento.
Segundo o pesquisador da Embrapa Soja, Geroge Brow, a América Latina ainda produz poucos trabalhos sobre a biologia, a diversidade e a importância das minhocas nos ecossistemas da região, daí a importância do intercâmbio com países como França, Alemanha e Estados Unidos que detêm muito conhecimento sobre o assunto.
As minhocas estão entre os primeiros animais presentes na Terra há 600 milhões de anos e sua importância para a fertilização dos solos já é conhecida há mais de dois mil anos, quando o filósofo Aristóteles as definiu como "arados da terra" por sua capacidade de descompactar os terrenos mais duros. O naturalista Charles Darwin, autor da Teoria da Evolução das Espécies, dedicou mais de 40 anos aos estudos e pesquisas sobre a vida das minhocas e suas funções na natureza que resultaram no livro "A formação do húmus através das ações das minhocas", publicado em 1881.
Na década de 40, nos Estados Unidos, a criação de minhocas em cativeiro abriu um novo mercado que movimenta centenas de milhões de dólares em todo o mundo: o comércio de minhoca como isca viva para a pesca. Foi de lá que a minhocultura (criação de minhocas em grande escala) foi levada para a Europa e depois difundida para outros países.
Mas a minhoca não é apreciada apenas in natura pelos peixes. Devido a seus altos índices de nutrientes (proteínas, gordura, fibra, carboidratos, cálcio e fósforo), ela também é matéria prima para a fabricação de farinha utilizada na composição de rações para peixes, rãs, eqüinos e bovinos. A farinha de minhoca é um complemento alimentar de grande concetração energética e é produzida a partir de minhocas criadas em cativeiro e alimentadas com proteínas, gelatina, vitaminas, furtas, verduras e folhas.
No Brasil, a produção comercial de húmus e de farinha de minhoca ainda é bastante restrita. Não existem grandes produtores e o mercado é praticamente dominado por pequenos produtores que utilizam a minhocultura para abastecer a própria propriedade. Pesquisando e promovendo eventos sobre o tema, a Embrapa quer determinar as espécies de minhocas com potencial de uso na produção de grãos, na floricultura, na horti-fruticultura e na pesca artesanal.