Redução de custo na separação de plásticos favorece reciclagem

18/08/2003 - 18h48

Brasília, 18/8/2003 (Agência Brasil - ABr) - A flotação (processo de separação das partículas de uma mistura sólida pulverulenta (com muito pó), mediante a formação de uma espuma que arrasta as partículas de uma espécie, mas não as de outra) é uma maneira eficiente e econômica de separar o plástico PET (polietileno tereftalato) do plástico PVC. Após mais de dois anos de experimentos em laboratório, a engenheira Gisela Ablas Marques verificou a eficiência dessa técnica, utilizada desde o início do século em minérios.

O PET, usado na confecção de garrafas de refrigerantes (68% de todo refrigerante no país é embalado com PET), embalagens e tecidos, tem alto valor no mercado de recicláveis, perdendo apenas para o alumínio. Em 2001, o Brasil produziu 360 mil toneladas de PET e reciclou 89 mil toneladas. A dificuldade em separá-lo do PVC - aplicado em encanamentos e embalagens - é um dos principais empecilhos à sua reciclagem.

Naturalmente hidrofóbicos (repelentes à água), os plásticos não afundam durante a flotação, mesmo alguns deles sendo mais densos que a água. A técnica consiste em modificar as propriedades de um dos tipos de plástico para que ele possa ser "molhado" pela água e afundar. Assim, o PET e o PVC misturados, já picados e lavados, são colocados em solução aquosa com o surfactante (tipo de reagente), que faz com que um deles possa ser molhado pela água e deprimido enquanto o outro flutua com a fixação de bolhas em sua superfície. Até então, a separação entre os dois materiais era difícil porque suas densidades são muito próximas.

"Por intermédio da ação do surfactante foi possível mudar a superfície do PET fazendo com que ele apresentasse maior afinidade pela água que o PVC. Desse modo, conseguimos flotar o PET e deprimir o PVC", explica Gisela Marques. Ela variou o surfactante e o espumante (substância para ajudar a "prender" o plástico flotado na superfície). Também trabalhou com diferentes níveis de acidez da solução e tamanhos dos flocos de plástico.

Assim, a engenheira chegou a uma fórmula ideal: a solução deve ser básica, de pH 12. O surfactante escolhido foi o Lignosulfonato de Cálcio (LCa) e o espumante foi o Metil Isobutil Carbinol (MIBC). Os materiais devem ser moídos em flocos de plástico de 4,7 a 3,3 milímetros. O tempo de permanência na solução deve ser de uma hora. "Se deixar durante apenas 10 minutos não dá tempo do surfactante agir sobre a superfície do PET e ambos os plásticos são flotados. Se deixados por duas horas, os dois materiais serão deprimidos e estarão no fundo do recipiente", conta.

Um dos maiores problemas entre PET e PVC é a "contaminação cruzada". "O PVC contamina a reciclagem do PET e vice-versa", afirma Gisela. Ela explica que uma garrafa de PVC em meio a 20 mil garrafas de PET é o suficiente para inutilizar todo o lote. Além disso, o PVC, em alta temperatura, libera ácido clorídrico, o que corrói o maquinário e provoca defeitos no produto final.

A contaminação do PET também pode se dar por tampas, rótulos e adesivos. "Cada um deles é um tipo de plástico diferente, que não pode ser misturado ao PET." Atualmente, a separação é manual, feita em uma esteira rolante. "O problema é que PVC e PET são parecidos e podem ser confundidos", relata a engenheira.

Segundo Gisela, apesar da contaminação prejudicar a reciclagem, o principal empecilho ao processo ainda é a coleta e a separação dos materiais. "A coleta seletiva de lixo custa cerca de oito vezes mais do que a coleta convencional. O investimento é alto e não existe um retorno a curto prazo, por isso a implementação é difícil", lamenta.

Apesar dos problemas, o Brasil é o segundo país em reciclagem de plástico PET. "O processo de reciclagem utiliza apenas 10% da energia necessária para a produção do mesmo produto a partir da resina virgem", lembra Gisela. Ela acredita que, com a flotação, que pode ser implementada em empresas de grande porte, o mercado de reciclagem de plásticos pode se ampliar ainda mais.

A dissertação de mestrado Separação de PVC e PET para reciclagem foi apresentada à Escola Politécnica (Poli) da USP, em abril último. O estudo integra o Núcleo de Reciclagem de Resíduos, do Departamento de Engenharia Metalúrgica e de Materiais da Poli. (Agência USP de Notícias)