Futura primeira-dama confeccionou em casa primeira bandeira do PT

31/12/2002 - 18h07

São Paulo, 31/12/2002 (Agência Brasil - ABr) – Mais que testemunha ocular de um período da história contemporânea brasileira, a futura primeira-dama Marisa Letícia Lula da Silva, 52 anos, é uma das poucas pessoas que viram essa história ser construída dentro da própria casa. Esposa de Luiz Inácio Lula da Silva há 28 anos, Marisa presenciou reuniões que culminaram na primeira grande greve do ABC paulista, em pleno regime militar, outras que traçaram as estratégias de luta pelas Diretas-Já e, principalmente, viveu todo o processo de luta sindical que culminou com a criação do Partido dos Trabalhadores (PT).

A primeira bandeira do PT foi feita por Marisa, quando ainda eram realizados encontros em sua casa para definir os rumos do futuro partido. "Eu tinha um tecido vermelho, italiano, um recorte guardado há muito tempo. Costurei a estrela branca sobre o pano vermelho. Ficou lindo. A gente não tinha núcleo, não tinha nada. Minha casa era o centro. Começamos a estampar camisetas para arrecadar fundos. Vendíamos uma para comprar duas. Estampava a estrelinha e comprava mais. Foi assim que começou o PT", contou Marisa.

Filha de Antonio João Casa e Regina Rocco Casa, descendentes de italianos, a primeira-dama teve 15 irmãos, três dos quais morreram ao nascer. Aos 9 anos, a paulista de São Bernardo começou a trabalhar. Foi pajem dos filhos de Jaime Portinari, um dentista conhecido, sobrinho do pintor Cândido Portinari. Luiz Inácio Lula da Silva é o segundo marido de Marisa. Aos 19 anos, ela conheceu Marcos, um motorista de caminhão que transportava areia, com quem logo se casou.

Como queria comprar uma casa, Marcos fazia bicos, com o táxi do pai à tarde, nos fins de semana. Quando estava com quatro meses de gravidez, Marisa recebeu a notícia do assassinato do marido, num assalto enquanto trabalhava. Numa de suas idas ao Sindicato dos Metalúrgicos para receber o benefício do INPS, Marisa conheceu Luiz Inácio Lula da Silva. Depois de muita persistência e telefonemas, o então sindicalista conseguiu levá-la para almoçar num tradicional
restaurante do ABC. No entanto, Marisa já tinha um namorado.

A insistência de Lula, na época também viúvo, lhe garantiu este casamento de 28 anos. Ele chegou à casa da futura esposa a bordo de um TL azul turquesa, pediu licença ao então namorado de Marisa, "porque tinha um importante assunto a tratar com ela", e, por fim, conquistou a simpatia da futura sogra que, já no primeiro encontro, lhe ofereceu um aperitivo. Sete meses, depois estavam casados.

Entre 1978 e 1980, com o fortalecimento dos movimentos sindicais, Marisa viu personalidades como Frei Betto, Fernando Henrique Cardoso, Eduardo Suplicy e o atual arcebispo de São Paulo, Dom Cláudio Hummes, freqüentando constantemente sua casa. Quando, em 1980, Lula e outros líderes sindicais foram presos no DOPS paulista pelo regime militar, Marisa não hesitou em organizar uma passeata só de mulheres e crianças para denunciar a prisão dos maridos à sociedade.

"Os homens queriam o nosso apoio, mas nós dissemos não e saímos. Fizemos só com as mulheres. Botei as crianças na rua, meus filhos no meio daquela multidão, polícia para tudo quanto é lado", revela. Em 1980, quando Luiz Inácio Lula da Silva foi julgado no Superior Tribunal
Militar (STM), o casal esteve pela primeira vez na capital da República. Depois de ver "aquela ostentação toda" da capital federal, Marisa foi objetiva e direta: "Lula, vamos parar com tudo isso, esses caras não vão deixar você chegar ao poder nunca".

Hoje, ela vê a real dimensão adquirida pelo Partido dos Trabalhadores que, no seu entender, já começou a mudar o país. Marisa acredita que um dos maiores desafios da sociedade brasileira, atualmente, é a violência. "É o que me dá mais medo, me dá dó, me dá pena". Entretanto, ela confia que, se a juventude tiver acesso à escola, "uma boa educação e trabalho", o país vai mudar.
NF
Marcos Chagas
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