Defesa de Delúbio usa caixa 2 como argumento para negar que dinheiro do mensalão ia para compra de parlamentares

06/08/2012 - 18h53

Heloisa Cristaldo
Repórter da Agência Brasil

Brasília – O advogado Arnaldo Malheiros Filho, que defende o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares, disse hoje (6) que seu cliente operou caixa 2 durante a campanha eleitoral de 2002. Segundo ele, os recursos recebidos ilegalmente pela legenda não serviam para comprar parlamentares, conforme a acusação do Ministério Público.

"O PT não podia fazer transferência bancária porque o dinheiro era ilícito mesmo (..). Delubio não se furta a responder ao que é responsável. Ele operou caixa 2? Operou. É ilícito? É. Ele não nega. Mas ele não corrompeu ninguém", disse Malheiros.

Delúbio Soares é acusado de formação de quadrilha e corrupção ativa. Entretanto, para Arnaldo Malheiros a acusação é “pífia”. “A verdade é que a prova é rala, não se presta à condenação de Delúbio Soares de maneira nenhuma”, disse durante a sustentação oral na sessão de julgamento do mensalão desta segunda-feira. Ele usou 40 dos 60 minutos a que tinha direito para fazer a defesa de seu cliente. De acordo com regra estabelecida pelos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), uma hora é o tempo máximo para cada advogado.

Segundo Malheiros, Delúbio Soares nunca se envolveu com jogo político e não pode ser responsabilizado pelo crime de formação de quadrilha. “O problema dele era arrecadar dinheiro para custear despesas de campanha. Não se pode comprar a maioria parlamentar com 13 deputados (..). Isso não é quadrilha. O Delúbio se associou ao Partido dos Trabalhadores. Eles se associou em torno de um sonho, um projeto de poder e isso não é quadrilha”.

Malheiros entregou aos ministros do STF versão impressa de material que seria apresentado em Power point. O uso de recursos tecnológicos foi negado semana passada pela maioria dos ministros do STF.

Segundo acusações do Ministério Público, Delúbio integrou o grupo que operava o mensalão desde 2003, tornando-se o principal elo entre o núcleo político e os núcleos operacional e financeiro, liderados pelo publicitário Marcos Valério. Ao apresentar a denúncia, na última sexta-feira (3), o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, afirmou que, sob o comando de José Dirceu, coube a Delúbio Soares os primeiros contatos com Marcos Valério para viabilizar o esquema de obtenção dos recursos que financiaram a cooptação de parlamentares para votação de projetos de interesse do governo.

De acordo com Gurgel, era também competência de Delúbio Soares indicar a Marcos Valério os valores e os nomes dos beneficiários dos recursos. Recebida a indicação, Simone Vasconcelos e Geiza Dias, funcionárias das empresas de Marcos Valério, executavam os repasses, “dentro da engrenagem de lavagem disponibilizada pelo Banco Rural”.

Gurgel afirmou que Delúbio Soares não hesitou "em se locupletar [enriquecer]" com o esquema. O procurador-geral da República disse ainda que a atuação de Delúbio não se limitava a indicar os parlamentares que receberiam o pagamento e ressaltou que o ex-tesoureiro se beneficiou de pagamentos de R$ 550 mil. Sobre essa acusação, Malheiros não se manifestou durante sua sustentação oral hoje. Em entrevista aos jornalistas, na semana passada, rebateu o desvio de recursos. "Se há uma coisa notória é a simplicidade do Delúbio. Não conheço ninguém que tenha roubado e more na casa da sogra", disse.

A fase da exposição dos advogados de todos os réus do processo está prevista para terminar no dia 15 de agosto.

Edição: Lana Cristina