Pedro Peduzzi
Repórter da Agência Brasil
Brasília – A previsão de reajuste nas alíquotas do Imposto sobre Produto Industrializado (IPI) tem sido usado como argumento, por vendedores de automóveis, para incentivar os consumidores a comprar carros antes da virada do ano. Em muitos casos, o que não é informado é que a nova alíquota será aplicada na nota da fábrica e que, portanto, veículos comprados em 2013 pelas concessionárias – e estocados nas lojas – não sofrerão aumento. Esses veículos estocados também não são obrigados a se adequar à lei que obriga a instalação de freios ABS e air bags.
“Estocamos 990 carros. Falta até espaço para estacioná-los. Com isso, conseguiremos manter em R$ 23 mil o preço de veículos que passarão a custar R$ 27 mil”, disse à Agência Brasil Mário Celso de Araújo – gerente comercial de um grupo responsável por duas concessionárias Volkswagen em Brasília. Segundo ele, a expectativa é que o estoque dure cerca de 45 dias. O grupo vende 500 automóveis por mês. Em dezembro foram registradas cerca de 600 vendas. Mas esse crescimento, disse ele, costuma ocorrer independentemente do aumento do IPI.
Neste ano, a estratégia de fazer estoque foi adotada porque, além do IPI, há previsão de aumento no preço de fábrica. “Estimamos aumentos entre 2,4% e 3,3% no preço final, fora o aumento de R$ 1,5 mil, decorrente da obrigação de os automóveis saírem de fábrica com air bags e freios ABS”, disse.
O medo desses aumentos acaba apressando consumidores como o vigilante João Lopes. “Estou procurando um carro popular porque o ônibus que uso para trabalhar é muito problemático. Há algum tempo venho juntando dinheiro para fazer a compra. Mas se o preço aumentar, não terei condições”, disse ele.
O problema é que nem sempre os consumidores são informados de que o aumento não será tão imediato, nos casos em que há estoque. É o caso do motorista Delmo Souza Silva. “Eu não sabia que o aumento do IPI pode não ser aplicado nos carros do estoque. Nas quatro concessionárias que visitei, disseram que o preço aumentará em janeiro. Nenhuma disse que o IPI não vai incidir sobre carros estocados. Dizem apenas que se não comprar até o final do ano terei de pagar mais. Dessa forma, eles acabam perdendo nossa confiança”, criticou.
Gerente de vendas de uma concessionária Nissan, Cristiano Lennon diz que até o momento a loja não tem sentido tanto o impacto do IPI. “Em parte por ainda termos carros no estoque, para cerca de três meses”, justifica. Segundo ele, nem todas as lojas informam que a alíquota não incide sobre veículos já adquiridos junto às fábricas. “É claro que há vendedores que acabam usando o argumento do IPI para estimular os consumidores a fazerem a compra de imediato”, admite. “Mas isso implica, posteriormente, em falta de credibilidade, o que não é desejado pelas concessionárias que pretendem ter a fidelidade dos clientes”.
A poucos metros dali, em uma concessionária Fiat, o vendedor Rogério Henrique disse que seu estoque estava com apenas 40% da capacidade. O ano, segundo ele, não foi tão bom. “Mas melhorou nas duas últimas semanas. No começo do ano, eu vendia em média três carros por semana. Agora vendo pelo menos cinco. Acho que a previsão de aumento do IPI é o que mais está favorecendo isso”, disse.
Já o gerente de vendas de uma concessionária JAC, Mauro Silveira, diz que sua empresa trabalha “com pouco estoque”, e que, portanto, o aumento deverá ser repassado já no dia 2 de janeiro. “As vendas foram mais sentidas apenas na última quinzena, com um aumento próximo a 20% [na saída de veículos]”, disse. Além disso, há a previsão de um reajuste acumulado no preço de fábrica, de aproximadamente R$ 1 mil, em média, por carro. “Esse valor não inclui o IPI”, informou.
Estão previstos dois aumentos de IPI. Um para janeiro e outro para a partir de julho. Para evitar o segundo aumento, o diplomata Daniel Lopes planeja comprar dois carros em março, quando voltará ao país. Um para ele e outro para a esposa, Flávia Guilarducci. Atualmente, o casal mora na Holanda. “Por mim eu nem usaria carro para ir ao trabalho. No exterior não há necessidade de usar porque o transporte público tem excelente qualidade e há infraestrutura para usarmos bicicleta. Isso não ocorre no Brasil”.
Pensamento similar tem o militar Edinaldo Araújo. “Troco de carro a cada três ou quatro anos. Não dá para usar ônibus porque temos um dos piores transportes públicos do país. Se fosse de boa qualidade eu deixaria, sem a menor dúvida, o carro em casa. Mas não dá para confiar em um ônibus que não chega e que, quando chega, te deixa na metade do caminho”, disse. O militar calcula uma economia de aproximadamente R$ 2 mil, caso feche o negócio antes de o aumento do IPI e das fábricas ser repassado ao preço final.
Sem se importar com o aumento previsto, o economiário Alexis Rodrigues diz considerar que a variação prevista “é pequena e pode ser diluída nas prestações”, disse ele enquanto analisava os carros expostos na concessionária. “Ainda estou na dúvida se compro agora ou não. Não tenho pressa porque minha ideia é comprar até março, quando vence a garantia do meu carro atual”, justificou.
Edição: Denise Griesinger
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