Akemi Nitahara
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro – Seis meses depois das manifestações que tiveram como motivação inicial a suspensão do aumento das passagens de ônibus, nenhum avanço foi observado pelos usuários de transporte público no Rio. A prefeitura chegou a falar em reajuste para 2014, mas depois negou ter uma posição sobre o assunto. Os protestos na capital começaram no dia 10 de junho, organizados pelas redes sociais e sem um comando unificado, e logo se espalharam para a região metropolitana, em Niterói, São Gonçalo e Duque de Caxias.
No dia 25 de junho o prefeito Eduardo Paes revogou o aumento no valor das passagens de ônibus, que havia passado de R$ 2,75 para R$ 2,95 desde 8 de junho, e lançou o Pacto da Transparência nos Transportes. Naquele mesmo dia, o governador Sérgio Cabral também revogou o aumento nos trens urbanos, nas barcas e no metrô.
O integrante do Comitê Popular da Copa e das Olimpíadas Demian Castro lembra que a maior parte das reivindicações da população durante o movimento que ficou conhecido como Jornadas de Junho não está resolvida. “A questão da mobilidade urbana continua bastante precária, cada vez pior. A gente que vive no Rio de Janeiro sabe muito bem disso, não melhorou nada. Os protestos, sempre que tomam uma proporção um pouco maior, são violentamente reprimidos, como a gente viu com a pauta dos professores.”
Em agosto a Câmara Municipal criou uma comissão parlamentar de inquérito para investigar a implantação, fiscalização e operação do serviço público de transporte coletivo. De acordo com o vereador Eliomar Coelho (PSOL), que propôs a CPI, depois da polêmica sobre a composição da comissão, a oposição entrou com um recurso na Justiça questionando a proporcionalidade e a investigação está paralisada.
Atualmente a CPI está no Judiciário para julgamento quanto ao mérito. “Ainda não tem nenhuma batida de martelo. Se a decisão for favorável, é claro que vamos participar. A gente não saiu da CPI, a gente declinou de participar com essa composição atual, que consideramos sem legitimidade.”
Segundo o vereador, não há transparência no setor de transporte coletivo da cidade e a CPI só foi criada por causa da mobilização popular envolvendo o tema. O estudante da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Renan Faria, que participou do movimento Ocupa Câmara e passou 12 dias dentro do prédio em agosto e mais dois meses acampado na frente, disse que as discussões continuam.
“Os atos de rua estão esvaziados, mas a movimentação agora é em outro sentido. Estão acontecendo assembleias populares, reuniões, plenárias e discussões políticas. Com articulação, estamos conseguindo entrar nas escolas, levar para os alunos secundaristas as questões. Está em um momento de rearticulação. O movimento não parou."
De acordo com ele, as assembleias chegaram a reunir 160 pessoas e agora têm a presença frequente de 70 pessoas, todas as quartas-feiras, na Cinelândia. Faria diz que os estudantes estão investigando o setor de transporte por conta própria. “A gente montou uma comissão popular de investigação. É uma CPI, só que popular.”
Edição: Andréa Quintiere
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