Thais Araujo
Repórter da Agência Brasil
Brasília - As dificuldades históricas enfrentadas em razão da escassez de água no Semiárido brasileiro serviram de inspiração para o projeto científico do estudante José Leôncio de Almeida Silva, 23 anos, aluno do curso de agronomia da Universidade Federal Rural do Semiárido (UFERSA), no Rio Grande do Norte. Ele é o vencedor da categoria ensino médio do 27º Prêmio Jovem Cientista, cujas premiações estão sendo entregues hoje (16), em solenidade no Palácio do Planalto. Esta edição abordou o tema Água: Desafios da Sociedade.
Na pesquisa, ele desenvolveu uma solução de água salina proveniente do Aquífero Calcário Jandaíra – principal manancial e uma das maiores reservas de água dos estados do Ceará e Rio Grande do Norte – misturada à água usada no abastecimento urbano e disponível em menor quantidade, com o objetivo de irrigar os solos do Semiárido. O experimento foi usado na plantação de milho e sorgo – duas das culturas que mais crescem no Nordeste – adotadas por produtores locais como forragem, alimento para os animais.
"A falta de água, principalmente de boa qualidade, na região me motivou a desenvolver esse projeto. Descobrimos que, misturando água salina à água do abastecimento, obedecendo determinadas proporções, e utilizando a solução na irrigação das culturas, reduzem-se fatores como produtividade e área foliar (tamanho da folha), mas não se interfere no teor proteico, o que é um ótimo resultado, já que a forragem servirá de alimento para animais”, explica o pesquisador.
Assim, a mistura de águas é uma opção viável no cultivo e no desenvolvimento de plantas forrageiras na região semiárida do Nordeste durante períodos de estiagem (de abril a novembro). “O que eu fiz foi descobrir o nível de salinidade que as plantas forrageiras toleram. E, além disso, que a mistura poderia ser usada não somente nos períodos de seca, mas também ao longo de todo o ano. Assim, o produtor não precisa gastar água de boa qualidade com a irrigação”, conclui ele.
Vencedor da categoria mestre e doutor, Gustavo Meirelles Lima, 26 anos, doutorando em engenharia mecânica da Universidade Federal de Itajubá, em Minas Gerais, propôs um sistema de microgeração de energia em redes de abastecimento de água para aumentar a eficiência no processo de captação e distribuição. De acordo com o pesquisador, em locais onde há forte pressão na rede, há também grande energia potencial.
“O excesso de pressão é prejudicial por dois motivos: primeiro porque aumenta a incidência de rupturas nas tubulações e, segundo, porque aumenta o volume de vazamentos. Esses dois fatores impactam diretamente na qualidade dos serviços prestados e na tarifa de água. Como essa pressão é resultado de uma característica da topografia, é necessário encontrar uma forma para que ela seja controlada”, explica Gustavo. Desse modo, o pesquisador teve a ideia de desenvolver um dispositivo que gerasse um duplo benefício, controlando a pressão e gerando energia.
O Prêmio Jovem Cientista é uma iniciativa do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) com o objetivo de revelar talentos, impulsionar a pesquisa no país e investir em estudantes e jovens pesquisadores que procuram inovar na solução dos desafios da sociedade. Quatro categorias são premiadas: mestre e doutor; estudante do ensino superior; estudante do ensino médio e mérito institucional. Há ainda um prêmio de mérito científico para um pesquisador doutor que tenha se destacado na área relacionada ao tema da edição. Os orientadores das três categorias principais e as escolas dos três classificados do ensino médio recebem laptops, como forma de estimular e reconhecer a cadeia de aprendizagem. O valor dos prêmios somados é aproximadamente R$ 700 mil. Os vencedores desta edição foram anunciados em novembro.
Edição: Talita Cavalcante
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