Paulo Victor Chagas
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Após desenvolver soluções nas tecnologias da comunicação e da informação por 37 anos, o Centro de Pesquisa e Desenvolvimento (CPqD) recebeu pela primeira vez, no último dia 4, o Prêmio Finep de Inovação 2013. O órgão foi agraciado na categoria Instituição de Ciência e Tecnologia e recebeu R$ 200 mil pelo projeto que desenvolve.
Outro vencedor do prêmio foi a Fundação de Tecnologia do Estado do Acre (Funtac), em razão da fábrica de preservativos masculinos no interior do Acre que utiliza látex extraído por famílias que moram na Reserva Extrativista Chico Mendes.
O CPqD foi escolhido pelo “conjunto da obra” e não por uma produção específica. Assim, foram premiados projetos como o aplicativo que narra funções de um smartphone para pessoas com deficiência visual; o núcleo voltado a desenvolver tecnologias de defesa e segurança; o laboratório de comunicações óticas que atingiu esta ano a velocidade de dois terabites por segundo em um único canal; e a produção do Rádio Definido por Software para interagir com várias interfaces aéreas ao mesmo tempo, todos com a tecnologia e a marca CPqD.
A forma de trabalho do centro segue as necessidades do mercado. De acordo com o diretor de Gestão da Inovação do CPqD, Alberto Paradisi, o desenvolvimento tecnológico da instituição é puxado pela demanda dos usuários finais ou das indústrias que produzem em larga escala para os clientes.
“As ideias surgem a partir da necessidade. Daí, a gente parte para aprofundamento, e procura saber se é factível, se consegue implementar, se consigue um diferencial em relação ao que já existe? Depois, a gente parte para o investimento. Entre a ideia e o investimento tem o estudo”, explica Paradisi.
Desse modo, os setores do CPqD se dividem para fazer a pesquisa da inovação, desenvolver a tecnologia, produzir efetivamente o equipamento e negociar o investimento e a venda dos produtos.
No quesito dinheiro, a participação do governo é primordial. A principal fonte de financiamento do CPqD vem do Fundo para o Desenvolvimento Tecnológico das Telecomunicações (Funttel), que, por sua vez, é abastecido com percentuais do faturamento de empresas de telecomunicações e de eventos realizados por meio de ligações telefônicas.
De acordo com Paradisi, atualmente o orçamento anual do CPqD está em torno de R$ 200 milhões, somando o Funttel e recursos do BNDES, da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e da própria Financiadora de Estudos e Projetos (Finep). O apoio de empresas privadas se dá principalmente quando CPqD desenvolve e vende as tecnologias para indústrias e fábricas.
Segundo o diretor do órgão, é “sempre muito forte esse tipo de parceria, tanto que ela foi um dos indicadores apontado por nós como ponto forte” na inscrição para o Prêmio Finep.
Desenvolver produtos tecnológicos carece saber andar em uma linha tênue entre cobrar o preço que pague o investimento, desde que ele não seja caro demais para perder competitividade para outros fabricantes.
“Hoje a questão de preço é central, seja para celular, telecomunicações ou software. Ela não é o único vetor, mas é um dos que balizam nosso trabalho”, explica Paradisi, acrescentando ser impossível do ponto de vista do mercado produzir um bom equipamento mas que seja duas vezes mais caro que o de uma empresa chinesa, por exemplo.
De acordo com o diretor do CPqD, os 1.300 funcionários, a maioria graduados em TIC (Tecnologias da Informação e da Comunicação), trabalham de três formas: no fornecimento de softwares por meio de uma atuação laboratorial, na produção de equipamentos tecnológicos que serão produzidos em larga escala por indústrias e na criação de empresas que em parceria com o centro colocam em prática o que as instituições já existentes não têm a condição de concretizar.
Foi na categoria Tecnologia Social que a Funtac recebeu R$ 200 mil do Prêmio Finep 2013 pela fábrica em Xapuri, a 180 quilômetros da capital do Acre, Rio Branco. A cidade natal de Chico Mendes sedia a fábrica que produz camisinhas masculinas a partir da borracha extraída por cerca de 450 famílias.
O subsídio do governo estadual e do Ministério da Saúde permite que os extrativistas tenham uma renda melhor que a de mercado.
Outras duas características permitem que a fábrica de preservativos se destaque no papel de desenvolvimento sustentável, segundo Mesquita. “A iniciativa social fortalece a organização dos grupos de ativistas seringueiros e de fornecedores, favorecendo a cultura extrativista. E iniciativa ambiental, de valorizar as florestas, sem substituí-las”, explica o diretor.
Apesar da logística complicada – as extrações ocorrem em um raio de 100 quilômetros da fábrica -, o trabalho conjunto com cooperativas permite que o látex seja armazenado com qualidade e transportado por meio de pequenas estradas no meio da floresta ou do Rio Igarapé.
A fábrica de Xapuri começou a operar em 2008 e já produz 100 milhões de camisinhas por ano. Esta marca, de acordo com Mesquita, é responsável por 10% da demanda brasileira de camisinhas. De acordo com a necessidade indicada pelo Ministério da Saúde, os preservativos da fábrica que ganhou o prêmio Finep são distribuídos para os estados da Amazônia Legal e para o Distrito Federal.
Edição: Fernando Fraga
Todo o conteúdo deste site está publicado sob a Licença Creative Commons Atribuição 3.0 Brasil. É necessário apenas dar crédito à Agência Brasil