Especialista recomenda atenção a questões de segurança para evitar quebra de privacidade na internet

05/12/2013 - 17h22

Daniel Lima*
Repórter da Agência Brasil

 

João Pessoa – As novas empresas brasileiras, ainda em fase embrionária, com ideias inovadoras (startups), e os desenvolvedores de programas de computador devem ficar atentos a questões de segurança para evitar a quebra de privacidade dos usuários na internet, alerta Carlos Afonso, membro do Comitê Gestor da Internet (CGI). Para ele, é importante observar questões de direito e questões sociais na explosão tecnológica que está ocorrendo, onde cada vez mais pessoas usam meios digitais. Carlos Afonso participa, em  João Pessoa, da Conferência Brasil-Canadá 3.0.

“É importante observar essas questões na hora de desenvolver projetos para criação de programas de computador”, destaca Afonso, que dá como exemplo a Universidade de Waterloo, no Canadá, que leva tais pontos em consideração em suas políticas de desenvolvimento de software. “Pode-se fazer coisas espetaculares e depois descobrir-se que o produto, quando chega ao mercado, tem vulnerabilidades de segurança que podem afetar a privacidade das pessoas, revelar dados que não deveriam ser revelados ou dar acessos que não deveriam ser dados”, disse o especialista.

Para Afonso, é crucial que medidas de segurança, cada vez mais, sejam adotadas, pois a a percepção é da existência, em nível mundial, de um "vigilantismo" constante e maciço. Ele lembrou que todos imaginavam a existência dessas práticas, mas ressalta que a intensidade delas é que passou a assustar a todos, cidadãos e governos. Todos imaginavam que esse tipo de prática existia, mas não de forma tão intensa, a ponto de atingir cabos submarinos e celulares, acrescentou.

“Snowden [Edward Snowden, ex-consultor da Agência Nacional de Segurança dos Estados Unidos] acabou de revelar que 5 bilhões de celulares estão sendo monitorados pelo mundo pelo sistema NSA [sistema de segurança norte-americano], com o apoio da Nova Zelândia, da Austrália, do Canadá, da Inglaterra e de outros paises", ressaltou Afonso. Por isso, é uma coisa à qual todos devem ficar atentos, e as startups devem se preocupar com isso, completou.

Para ele, as mudanças, com as novas gerações de IPs, precisam de mais atenção. O IP é o um protocolo que permite a identificação de um dispositivo (computador, smartphone, tablet) nas redes privadas ou públicas. “Com isso, um televisor, por exemplo, será conectado ao fabricante e, quando pifar, remotamente poderá ser consertada. Isso é fantástico. Mas, por outro lado, não sabemos o que o fabricante fará com os dados que pode capturar do seu televisor, como suas preferências, os programas etc”, disse.

Carlos Afonso destacou que são esses os desafios que deverão ser enfrentados a partir uma mudança de percepção sobre a vigilância que o cidadão tem sofrido em todo o mundo. “Antes, o mundo já sabia que [a vigilância] existia, mas ninguém imaginava que era tão escandalosa. Como têm centenas de bilhões de dólares, eles pensam em capturar tudo que podem. Tudo, tudo, tudo. Por quê? Se não têm tecnologia para processar tudo isso, amanhã eles acreditam que terão.”

Sobre o acordo Trans-Pacific Partnership (TPP), que prevê sanções para usuários que compartilhem material online e estabelece obrigações para os provedores cumprirem com direitos autorais, Carlos Afonso diz que é um novo desafio, já que é uma imposição de regras de propriedade intelectual aos países à revelia dos próprios congressos nacionais e da população e a favor dos grandes produtores.

“Os Estados Unidos e a Europa, em segundissimo plano. O que eles estão fazendo é forçar acordos para defender interesses como a produção de mídias, de conteúdo digitais, com rigorosos controles de propriedade intelectual”, destacou. Carlos Afonso alertou ainda que, embora o acordo seja com outros países, afetará o Brasil, uma vez que as grandes companhias adotem o novo acordo.

*O repórter viajou a convite da Associação Nacional para Inclusão Digital (Anid)

Edição: Nádia Franco

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