Vinícius Lisboa
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro- Brasil tem interesses e precisa se empenhar nos esforços internacionais para pôr fim à tensão territorial entre China e Japão, mesmo com capacidade limitada para atuar na questão. A avaliação foi feita pelo professor Alfredo Valladão, da Universidade Science Po Paris, que participou hoje (29) da 10ª Conferência de Internacional de Segurança do Forte de Copacabana, promovida pela Fundação Konrad Adenauer e pelo Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri), em Copacabana, zona sul do Rio.
"A questão do Japão e da China é que aquela região é chave para a economia mundial, que está toda interconectada. Nós vamos sofrer muito porque vendemos soja e ferro para a China, que é o que mantém a nossa balança comercial. Para nós, o fato de ter ou não um conflito na região vai nos atingir diretamente", disse o pesquisador.
Em caso de acirramento das tensões entre as duas potências, que são a segunda (China) e a terceira (Japão) economias do mundo, investimentos e uma das principais cadeias de valor poderiam ser paralisadas, causando prejuízos a todo o mundo. Para o Brasil, a questão seria especialmente delicada por outra questão que foge à economia, segundo lembrou o pesquisador: os laços criados pela imigração asiática.
"Temos uma grande e importante comunidade de origem japonesa. Se houver um conflito entre Japão e China, será difícil tomarmos posições e até ficarmos neutros. Teremos no Brasil sentimentos e emoções que serão difíceis. Isso criaria problemas na nossa relação estratégica com o Japão e a China", avalia Valladão.
Para o professor, a força do Brasil virá da ação multilateral. "Temos todo o interesse em tentar fazer parte dos grupos que estão tentando acalmar aquela tensão. Não podemos fazer isso sozinhos, porque não temos nenhuma força nem legitimidade para isso, mas, junto com os outros, vamos trazer mais força e legitimidade para as decisões que podem ser tomadas em comum pelas grandes potências e pela ONU".
Para Valladão, o Brasil ainda não se convenceu dessa importância. "Não estamos conscientes de que isso é da nossa conta. Agora, uma vez que estivermos conscientes, não quer dizer que temos condição de fazer alguma coisa. Temos que colaborar com os europeus e os americanos, porque são quem têm mais condições de fazer algo. Mas é preciso tomar cuidado. Se o Brasil escolher colaborar com a Índia, por exemplo, a China pode achar que estamos tomando posição, porque os dois países têm problemas".
Membro do conselho curador do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri), o diplomata Marcos Azambuja concorda que o Brasil tem um limitado poder de ação, mas que precisa atuar na questão: "Temos que agir através das Nações Unidas e dos órgãos multilaterais, mas reconhecendo que o poder brasileiro não se estende tão longe nem tem efeito contra países tão importantes. Temos que nos, fóruns internacionais, falar pelo entendimento e a negociação".
Japão e China disputam o direito às Ilhas Senkaku/Diaoyu, na região do Oceano Pacífico conhecida como Mar da China Oriental, onde Taiwan e Coreia do Sul também reivindicam território. Reservas de recursos naturais e rivalidades históricas estão entre os motivos.
Edição: Davi Oliveira
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