Vladimir Platonow
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro – Cinco oficiais envolvidos na morte do recruta da Polícia Militar (PM) Paulo Aparecido Santos de Lima serão convocados para prestar esclarecimentos na Comissão de Segurança Pública da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj). Eles foram convidados para comparecer à comissão em audiência pública feita hoje (28), mas não compareceram.
O recruta morreu no último dia 22, depois de ficar hospitalizado desde o dia 12, quando passou mal durante uma sessão de treinamento no Centro de Formação e Aperfeiçoamento de Praças (Cfap), no bairro de Sulacap, na zona oeste. Ele sofreu insolação e teve queimaduras graves, após ser obrigado a ficar sentado no asfalto quente, em um dia que chegou a registrar 42 graus Célsius (ºC).
O presidente da comissão, deputado Iranildo Campos (PSD), disse ter certeza da responsabilidade dos oficiais. “Não temos dúvidas de que houve um excesso desses oficiais, capitães e tenentes, que foram convidados e não compareceram à audiência pública. Agora, serão convocados”, disse o parlamentar. “Com a tragédia que houve com esse aluno, é preciso adequarmos a Polícia Militar aos dias de hoje, parar com os excessos, ter um currículo de educação física adequado, parar com esse tipo de instrução no sol quente e após o almoço. Isso tem que ser corrigido. Nós vamos cobrar”.
Os deputados ouviram o depoimento do comandante do Cfap, coronel Nélio Monteiro Campos, que considerou a morte do recruta como um caso isolado. “A minha perspectiva é que sejam esclarecidas todas as circunstâncias que levaram o Paulo e os demais alunos a sofrerem algum tipo de lesão. Eu acredito que o ocorrido foi um caso pontual, em um dia atípico, e que precisa ser devidamente apurado e esclarecido”, disse o oficial.
Para o presidente da Comissão de Direitos Humanos da Alerj, deputado Marcelo Freixo (PSOL), que acompanhou a audiência, a morte do recruta não foi um caso isolado, mas reflexo de uma política de treinamento que brutaliza os policiais.
“Não foi um caso de exceção. Esse tipo de treinamento é inaceitável. Você está preparando um servidor de que maneira, ao permitir que sofra queimaduras no asfalto quente, que não possa beber água e seja maltratado? Ele não morreu por causa do calor. Morreu por causa da estupidez”, disse Freixo.
O presidente da Associação de Praças da Polícia Militar e Corpo de Bombeiros, Vanderlei Ribeiro, criticou o tipo de treinamento feito com os recrutas e disse que vários outros casos de maus-tratos têm acontecido nos últimos anos.
“Os fatos se repetem. Não foi um caso isolado. Isso não é só no Rio de Janeiro, pois em todos os estados têm fatos semelhantes em função da cultura militarista. Entendemos que é preciso mudar toda a estrutura para poder preparar profissionais voltados para a defesa dos direitos da pessoa humana. A morte pode ter sido um caso pontual, mas a violência é permanente e histórica. Exigem que o policial trate bem o cidadão, mas o tratam como animal na escola de formação”, disse Ribeiro.
O diretor-geral de Ensino da PM, coronel Antônio Carlos Carballo, disse que esforços vêm sendo feitos para reformular a preparação dos recrutas nos centros de formação. “Nos últimos dois anos fizemos um trabalho de revisão e atualização de praticamente todos os currículos. Nossa ênfase é justamente em capacitar o policial para que ele tenha condições efetivas para trabalhar questões de mediação de conflito, fazendo com que o trabalho alcance todas as expectativas da sociedade, sem que ele utilize a força como sendo o seu primeiro recurso”, disse.
O Ministério Público também está acompanhando o caso da morte do recruta Paulo e convocou para prestarem depoimentos outros alunos que participaram dos treinamentos no dia em que ele passou mal.
Edição: Fábio Massalli
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