Mariana Jungmann
Repórter da Agência Brasil
Brasília - O senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP) vai pedir ao Ministério da Justiça acesso ao documento anexado ao inquérito da Polícia Federal (PF), em que o diretor da empresa Siemens faz denúncias sobre a prática de cartel das empresas que forneciam de materiais e serviços para o metrô de São Paulo.
De acordo com denúncias divulgadas pela imprensa, o senador teria "relações estreitas" com o consultor Arthur Teixeira – apontado como intermediador do esquema de fraude e responsável por repassar propinas a políticos -, o que ele negou hoje (26), em discurso na tribuna do Senado. Aloysio Nunes admitiu ter conhecido Teixeira à época em que foi secretário de Transportes Metropolitanos, há mais de 20 anos, entre 1991 e 1994. Segundo o senador, Teixeira e outros executivos de empresas do setor de transportes se relacionaram com ele de maneira “formal e cordial”.
Aloysio Nunes alega que o documento anexado ao inquérito da PF foi falsificado. Com base nisso, pede acesso ao documento que consta oficialmente na investigação para comprovar a falsificação. “Essa denúncia foi escrita em inglês. Era um documento interno da Siemens. Pois bem, essa denúncia foi acostada aos autos, a primeira denúncia do senhor Everton Rheinheimer [ex-diretor da Siemens] a seu ombudsman, e, junto, uma tradução. Acompanhando linha a linha um documento e outro, verificamos que, na tradução para o português, foi enxertado um parágrafo que não constava na denúncia original. Que parágrafo foi esse? De que esse esquema deveria beneficiar partidos políticos, em especial o PSDB e o DEM. Isso não constava no documento original. Foi acrescido por quem o traduziu”, alegou Nunes ao se dirigir aos demais senadores.
O parlamentar disse ainda que o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, foi imprudente ao encaminhar o documento para a Polícia Federal e avaliou que ele está se aproveitando do cargo para atacar os adversários políticos. “O ministro da Justiça, que conheço há muitos anos, está atrapalhando a investigação. Ele deveria se conduzir com mais sobriedade. Ele está trazendo para a rinha política adversários do seu partido para que nós, na nossa defesa, apaixonada e indignada, possamos elevar o tom político dos acontecimentos, o que é inevitável. Nesse sentido, ele está atrapalhando as investigações”, acusou Aloysio Nunes.
Apoiado por diversos membros do seu partido e do DEM, o senador ouviu do líder do PT no Senado, Wellington Dias (PI), a defesa do ministro da Justiça. Dias refutou as acusações de que Cardozo tenha sido leviano ao repassar à PF as denúncias que tinha em mãos. “Eu devo, nesse caso, dizer que, do ponto de vista do ministro da Justiça, qualquer um, no lugar dele, ao receber um conjunto de informações com um pedido de investigação, faria o mesmo”, alegou o líder petista.
Apesar disso, Wellington Dias apoiou Aloysio Nunes no que se refere ao direito de ter acesso aos documentos da investigação. “Eu quero dizer que Vossa Excelência tem todo o direito de acesso às informações – certamente o terá – e, de nossa parte, todo o respeito. Longe de qualquer um de nós, do Parlamento, fazer qualquer pré-julgamento, por tudo que conhecemos de Vossa Excelência. Acho que tem de ter esse acesso; se houver algo, tem de ter o direito de defesa”, concluiu Dias.
Edição: Lana Cristina//Matéria alterada para atualização de informações no segundo parágrafo. Diferentemente do que a matéria informava, as denúncias diziam que o senador mantinha "relações estreitas" com o consultor Arthur Teixeira – apontado como intermediador do esquema de fraudes -, e não que era participante do esquema. Aloysio Nunes negou ter mantido "relações estreitas" e admitiu ter conhecido Teixeira quando era secretário de Transportes Metropolitanos, de 1991 a 1994.
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