Flávia Albuquerque
Repórter da Agência Brasil
São Paulo – Cerca de 100 mulheres, de acordo com a organização, participaram da 4ª Caminhada do Dia Internacional de Não Violência contra a Mulher, nas ruas do Jardim Ângela, bairro da zona sul da capital paulista. Carregando faixas e cartazes contra a violência, as participantes do ato público procuraram chamar a atenção dos moradores do bairro, principalmente as mulheres, para o fato de que elas não devem aceitar o problema, que precisa ser denunciado, e têm de buscar informações sobre os serviços a que podem recorrer quando sofrerem agressões.
De acordo com Roselândia Ferreira Silva, uma das psicólogas da entidade organizadora da caminhada, a Arco Associação Beneficente, as mulheres que sofrem violência em casa podem contar com a entidade, que presta serviços de apoio no Jardim Ângela. “Além de atender às famílias, crianças e adolescentes, estamos abertos a acolher mulheres que sofrem a violência doméstica", disse Roselândia. Segundo a psicóloga, o Jardim Ângela fica em uma região muito carente, onde há muita violência contra a mulher. "Houve casos de mulheres assassinadas e, por isso, resolvemos nos movimentar para chamar a atenção das pessoas”, explicou.
Roselândia disse que mulheres sem estudo e sem orientação são as que mais sofrem com a violência no bairro. “Isso acaba até impedindo muitas delas de procurar auxílio e denunciar o caso à polícia. Com isso, elas acabam aceitando a violência dentro de casa.” A psicóloga ressaltou que os serviços assistenciais da região precisam se agregar ao movimento para que a ideia se fortaleça e mais mulheres possam sair do ciclo de violência.
Mãe de oito filhos, a dona de casa Ivanilda Crispim Oliveira Maciel, de 48 anos, perdeu uma delas assassinada há dois anos pelo marido. Ivanilda contou que, em nenhum momento, a família percebeu que havia algo errado, pois a filha nunca comentou sobre brigas ou agressões.
“Até hoje ninguém sabe direito o que aconteceu. E ele [marido] sumiu. Nunca mais vimos, não temos ideia de onde ele pode estar. Ele enforcou minha filha, e a sensação que tenho agora é que só a justiça divina resolverá isso”. Na caminhada do ano passado, a filha de Ivanilda foi homenageada.
Maria dos Anjos de Macedo, de 40 anos, que também participou da caminhada, disse que está disposta a deixar o companheiro com quem vive há 25 anos, caso ele volte a beber e a agredi-la. Atualmente doente, ele está sem beber. “Ele bebia todo fim de semana e me agredia com palavras, quebrava coisas em casa, fazia ameaças de morte. Uma vez, ele me bateu e eu reagi. Aguentei isso por causa dos filhos pequenos, mas prometi que daria um basta porque o mais novo vai fazer 16 anos. O mais velho já se casou e saiu de casa.”
A dona de casa contou que toma antidepressivos e faz tratamento psicológico, o que, segundo ela, dá mais força para a decisão de se separar. “Eu tenho medo de ele ter recaída e eu ficar na mesma situação. Sei que não vou aguentar, porque cheguei ao limite. Agora ele está tranquilo porque está doente. Se eu sair de casa, vai ser com a cara e a coragem, porque não tenho para onde ir.”
As participantes da caminhada percorreram as ruas do Jardim Ângela e foram até a sede da Arco Associação Beneficente distribuindo rosas às pessoas e gritando palavras de ondem contra a violência doméstica.
Edição: Nádia Franco
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