Carolina Sarres
Repórter da Agência Brasil
Brasília – A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Espionagem do Senado discutiu segurança da informação em audiência pública ocorrida hoje (22) . A CPI foi instalada depois das denúncias de espionagem de dados de empresas e de cidadãos brasileiros pela Agência Nacional de Segurança (NSA) dos Estados Unidos. Outros países, como a França, como vem sendo denunciado desde ontem (21), também foram monitorados pelo serviço norte-americano.
Para o pós-doutor em segurança da informação e presidente da Cloud Security Alliance Brasil, Sérgio Pagliusi, em uma escala de 0 a 10, o Brasil está entre 3 e 4 no quesito segurança da informação. “Estamos começando a acordar para o problema. Nessa história de espionagem corporativa, temos muita lição a fazer. Falta consciência institucional e um longo aprendizado. A sociedade como um todo caiu em si e viu que é uma coisa que nos afeta”, disse Pagliusi.
Para ele, devem ser estabelecidos canais de denúncia para esse tipo de situação "Que surjam novos Snowden. O destino dele está sendo avaliado por potenciais denunciantes”, disse o especialista, em referência a Edward Snowden, o ex-técnico terceirizado da NSA que revelou informações sigilosas sobre a conduta dos Estados Unidos.
De acordo com o conselheiro do Comitê Gestor da Internet (CGI), Rafael Moreira, o Brasil tem condições de desenvolver tecnologia própria para garantir a segurança dos dados do país, tanto do governo quanto da população. “Há uma massa de conhecimento dentro das universidades e em empresas inovadoras que podem contribuir propondo medidas para que possamos mudar isso [falta de segurança] no longo prazo”, informou Moreira. O CGI é uma instância que tem a participação de diversos órgãos do governo e da sociedade civil, coordenada pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Informação.
Atualmente, há 87 empresas na área de segurança da informação e criptografia no Brasil. Segundo Rafael Moreira, o governo tem de usar o seu poder de compra de softwares e hardwares para estimular a área da segurança cibernética, de forma a fomentar essas empresas, a produção de conhecimento na área e a construção de uma cadeia de produção nacional.
“Para lidar com essa indústria, tem de haver muito conhecimento. Por isso, os ministros de Ciência e Tecnologia [da Ciência, Tecnologia e Informação], Marco Antonio Raupp, e da Defesa, Celso Amorim, estão discutindo e vão propor um programa conjunto de apoio à pesquisa e à inovação em segurança. Chegou a hora de o Brasil dar um salto de qualidade”, disse o conselheiro do CGI.
Segundo o especialista em segurança de informações e computação em nuvem (também conhecida como cloud computing) e professor da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRP), Rodrigo Assad, o governo também precisa garantir a manutenção do capital humano especializado nessa área no país. “O assédio sobre as pessoas que terminam doutorado nessa área é muito grande. Eles investem muito dinheiro para contratar essas pessoas e justamente manter o poderio na área. Essas 87 empresas brasileiras têm de ser mapeadas e, de alguma forma, tem de haver uma forma de fomentá-las e blindá-las desse tipo de assédio”, disse Assad.
O professor informou que, nos últimos dez anos, o volume de dados disponíveis na internet aumentou 300 vezes e que é produzida uma quantidade de dados superior à que pode ser salva.
Outra questão discutida da audiência foi o Marco Civil da Internet, em tramitação no Congresso, com o objetivo de estabelecer de forma clara as obrigações e os direitos do governo, dos servidores, provedores e usuários de internet. Essa medida, aliada às últimas denúncias de espionagem dos Estados Unidos, levaram, inclusive, a presidenta Dilma Rousseff a pedir o empenho dos parlamentares nesta semana para aprovar a legislação.
Edição: Davi Oliveira
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