Flávia Villela
Repórter da Agência
Rio de Janeiro – A Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) deve lançar em 2014 um projeto de referência em crack voltado exclusivamente as mães usuárias e crianças. O projeto é resultado do aumento significativo do número de crianças filhas de dependentes de crack.
A chefe da Assistência Social do Hospital Universitário da Uerj, Dayse Carvalho, uma das idealizadoras do projeto, juntamente com integrantes do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Atenção ao Uso de Drogas (Nepad), explicou que o trabalho pretende formar e capacitar pessoas, qualificar a assistência a esse público específico e criar indicadores.
“Estamos construindo esse projeto a partir de várias experiências para que se torne um polo de formação, entre outras coisas. Não porque teve financiamento ou está na moda, mas porque toda nossa trajetória de trabalho está nos apontando que esse tema precisa de respostas”, ressaltou ela.
Dayse explicou que um dos trabalhos que deve ser desenvolvido é o acompanhamento das crianças filhas de dependentes de crack. Ela explicou que algumas crianças nascem com crises de abstinência, muito agitadas e não conseguem mamar. Com o tratamento acabam se restabelecendo. Entretanto, pouco se sabe dos efeitos do crack nessas crianças na fase escolar.
“A grande interrogação é quando elas começam a idade escolar”, disse a assistente social. “Temos muitas crianças que acabam aqui na pediatria e o pai vem com a queixa de que o filho não aprende. Quando avaliamos há um histórico familiar com interfaces com a droga”, destacou a técnica da Uerj.
Há 20 anos trabalhando na área, Dayse Carvalho explicou que, em geral, as grávidas dependentes de droga têm vínculos quase inexistentes com a família. Entretanto, ela ponderou que é fundamental tentar resgatar esse vínculo para o bem do bebê e da mãe e que os trabalhos voltados para essas crianças devem focar nessa retomada de vínculo familiar. “Quando a família vê que a instituição é uma aliada, ela se aproxima e se envolve no cuidado do bebê e da mãe. Mas leva tempo, meses, um ano até. São famílias que foram muito agredidas e estão ressabiadas”.
Para a especialista, o ciclo da violência e da droga só será rompido quando as instituições que trabalham com esse grupo se adaptarem às reais necessidades dessas mães. “Se a gente tem alguma chance de proteger essas crianças temos que mudar o modo de trabalhar. Nós não vamos mudá-los [pais]”, ponderou.
Edição: Marcos Chagas
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