Flávia Villela
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro – A solidariedade tem proporcionado um futuro melhor à crianças filhas de adolescentes viciadas em crack. No entanto, está longe de representar uma solução para o problema. O técnico de rede, Djalma da Silveira Gusmão e sua família, por exemplo, adotaram quatro crianças de uma só vez. Eles participavam de um trabalho comunitário na favela onde morava a mãe das crianças, usuária de crack. A decisão foi há dois anos, depois que a filha mais nova, com apenas 17 dias de vida, foi deixada em casa sozinha após ser jogada no chão.
“Ligaram no meio da madrugada para nossa casa dizendo que a bebezinha tinha sido jogada no chão. Fomos até o local, a Esterzinha [nome da criança] estava com uma fratura na cabeça e a levamos para uma Unidade de Pronto-Atendimento. E foi aí que começou nossa história com elas”, contou Djalma.
Quatro meses depois do início do processo de adoção, a esposa de Djalma morreu, mas ele não desistiu da adoção e teve a ajuda da filha de 18 anos na criação das gêmeas, Isabelle e Isadora, hoje com 6 anos, Ester, de 2 anos, e Pietro, de 3 anos.
“Elas quase não têm lembrança da mãe biológica, pois eram muito novas e graças a Deus, não têm nenhuma sequela e são todas saudáveis”, disse ele. “Fica mais complicado quando as crianças já são maiores”, ponderou Djalma.
A história de adoção dos quatro filhos de Djalma é uma exceção no universo de crianças filhas de dependentes de crack, segundo a conselheira tutelar Liliane Lo Bianco.
“Na vida real, as crianças ficam pela rua, a gente não consegue tirar. Hoje temos um grande número de crianças que são filhas do crack. São meninas viciadas que se prostituem para a compra da droga. O crack amortece, despersonaliza esse sujeito”, explicou ela. “Eles criam afeto pelo crack, que dá o que eles não têm no núcleo familiar, que é prazer, liberdade”, acrescentou.
Para a diretora do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Atenção ao Uso de Drogas (Nepad) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), Ivone Ponczek, é importante criar medidas para estimular o vínculo da mãe com o bebê e evitar a perpetuação de um ciclo de abandono.
“A adoção é uma alternativa, mas antes da adoção temos que tentar criar vínculo com a família, por mais precária que ela seja. Se a mãe não puder, pode ser uma tia, uma avó, alguém que exerça essa função materna”, declarou ela, que defendeu que o vínculo materno é, inclusive, um estímulo para a mãe abandonar o vício.
Edição: Marcos Chagas
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