Pedro Peduzzi
Repórter da Agência Brasil
Brasília – A média de comparecimento de funcionários dos Correios ao trabalho hoje ficou em torno de 93% , a exemplo dos últimos dias, desde o início da greve. De acordo com a estatal, 93,42% dos empregados registraram o ponto eletrônico e estão trabalhando normalmente. Na área operacional – a de maior adesão, que inclui carteiros, atendentes e operadores de triagem e transbordo – o percentual registrado pelo sistema eletrônico de presença é 92,21%. Os números são contestados pelas lideranças sindicais.
Segundo James Magalhães, o diretor da Federação Nacional dos Trabalhadores em Empresa de Correios e Telégrafos e Similares (Fentect), em média, 70% da área operacional está parada. “Os números apresentados pelos Correios não procedem. Tanto é que, em um documento entregue ao TST [Tribunal Superior do Trabalho], eles argumentam que não estamos cumprindo com o previsto na Lei de Greve, porque há estados com menos de 35% do efetivo trabalhando”, disse Magalhães à Agência Brasil.
O TST determina um efetivo mínimo de 40% para manter os serviços. Caso não cumpra a determinação, a entidade terá de pagar multa diária de R$ 50 mil. Dos 35 sindicatos que representam os trabalhadores dos Correios, 29 são vinculados à Fentect. “Todos os nossos 29 sindicatos estão em greve. Há também o do Tocantins, que é filiado à Findect [Federação Interestadual dos Sindicatos dos Trabalhadores e Trabalhadoras dos Correios]”, informou Magalhães.
Os Correios propuseram reajuste de 8% nos salários, garantia da manutenção de todos os benefícios com reposição da inflação integral no período (6,27%), abono de R$ 650,65, a ser creditado em dezembro para o Natal, e vale-cultura, segundo as regras de adesão ao programa implementado pelo governo federal. Já a Fentect pede reajuste de 7,13%, alegando defasagem salarial causada pela inflação recente, mais 15% de aumento real, e R$ 200 de aumento linear para todos os servidores. Além disso, pede mais 20% pelas perdas salariais ocorridas desde o Plano Real.
De acordo com a estatal, serão feitos mutirões neste fim de semana para colocar a entrega de cartas e encomendas em dia, dando continuidade ao Plano de Continuidade de Negócios que prevê, ainda, deslocamento de empregados entre unidades e pagamento de horas extras.
“Esses mutirões confirmam que a entrega e boa parte do serviço operacional estão prejudicados. Sabemos disso pelas conversas que mantemos com nossos presidentes de sindicatos e diretores. Se tudo estivesse funcionando normalmente, por que eles teriam de fazer mutirões?”, questionou Magalhães.
Segundo ele, medidas como remanejamento de pessoal e pagamento de horas extras não surtirão o efeito desejado pela estatal porque os que são chamdos para trabalhar "não têm experiência e não conhecem ruas, números e casas” para onde as correspondências são enviadas.
Correios e Fentect se acusam mutuamente de a outra parte não estar aberta ao diálogo. Em nota, a empresa diz ter feito “todos os esforços junto à Fentect para fechar o acordo”, e que a federação “recusou-se a dialogar durante a audiência de conciliação no TST e preferiu deflagrar paralisação parcial, levando ao dissídio”.
Já o sindicalista diz que é a estatal que se recusa ao diálogo. “A prova de que queremos diálogo é a carta que enviamos à empresa, pedindo justamente o diálogo. E a prova de que eles não querem conversa é a resposta à nossa carta, dizendo que as negociações estão encerradas”, afirmou Magalhães.
Outro ponto que, segundo a Fentect, tem gerado descontentamento entre os trabalhadores é o "sucateamento" do Correios Saúde, plano que atualmente é administrado pelo setor de recursos humanos da empresa. A preocupação é que ele seja repassado à iniciativa privada, sob o nome de Postal Saúde.
A estatal, no entanto, assegura que “todos os atuais direitos dos trabalhadores em relação ao plano de saúde estão garantidos”, o que inclui manutenção dos atuais beneficiários, inclusive pais do empregado, que já estão cadastrados; cobertura de procedimentos; rede credenciada; e percentual de compartilhamento. Além disso, acrescenta, “não haverá nenhum custo adicional, repasse ou mensalidade aos empregados”.
Segundo a empresa, todo o processo de migração para o Postal Saúde demanda autorização da Agência Nacional de Saúde (ANS). Além disso, a alteração da gestão será feita por um conselho formado por representantes indicados pelos Correios e por empregados.
Edição: Nádia Franco
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