Pedro Peduzzi e Danilo Macedo
Repórteres da Agência Brasil
Brasília – O secretário-geral da Presidência da República, ministro Gilberto Carvalho, disse hoje (16) que foi surpreendido com as informações de que a organização não governamental (ONG) Centro de Atendimento ao Trabalhador (Ceat) está sendo investigada pela Operação Esopo da Polícia Federal. A entidade foi recomendada por ele ao Ministério do Trabalho, a pedido de cardeais da Igreja Católica, para a prestação de serviços de qualificação de trabalhadores.
Apesar disso, ressaltou o ministro, o caso não abalou sua confiança na Igreja. “Isso não tira do meu juízo a generosidade organizada das entidades sociais, que fazem um trabalho imenso e importantíssimo país afora”, afirmou Gilberto Carvalho, durante o lançamento do Programa de Inclusão de Pessoas com Deficiência na Presidência da República.
“A Igreja Católica, assim como outras igrejas, tem prestado trabalho inestimável à questão social no país. Nunca vamos negar. Pelo contrário. Seguiremos trabalhando em parceria e seguiremos com esse trabalho de cuidar dos excluídos, o que as igrejas fazem com muita competência e generosidade. Agora, em qualquer instituição, temos desvios. Trata-se portanto de corrigir esses desvios. Isso em nada abala a nossa confiança na Igreja. Até porque nós vivemos na política e sabemos que nela existem esses problemas”, acrescentou Carvalho, ao elogiar o fato de entidades sociais e filantrópicas e ligadas a igrejas “fazerem trabalhos que o Estado não consegue fazer”.
Segundo Carvalho, o risco de erro existe em quaisquer situações onde está o ser humano. “A melhor forma de corrigir [uma situação como esta] é, de um lado, punir quem comete os crimes. E, ao mesmo tempo, avançar no aparato legal e nas normas para dificultar, desestimular e impedir que haja o desvio de recursos que são voltados exatamente para aqueles que mais precisam. O crime é maior quando você desvia recursos de quem mais precisa”, destacou.
O ministro avalia ter havido “malversação” no Ceat e disse que o episódio surpreendeu também aos cardeais Cláudio Hummes, prefeito emérito da Congregação para o Clero, e Odilo Scherer, arcebispo de São Paulo. “Claro que, pessoalmente, eu me sinto frustrado. Mas, sobretudo, o que é ruim é a revolta da gente em ver que pessoas usam recurso público para outro fim que não aquele a que [o dinheiro] foi destinado. Apropriação indébita de recurso público é um crime que tem de ser severamente punido”, reforçou. “Mas insisto: isso não deve, de maneira alguma, nos levar a criminalizar essas entidades. Temos que dar crédito a elas.”
Para o ministro, em tais situações, é preciso confiar na generosidade, na boa vontade, na boa intenção das pessoas que atuam nessas entidades. "Hoje, se as entidades deixassem de trabalhar no Brasil, teríamos uma catástrofe, porque quem cuidaria de tantos orfanatos, abrigos para órfãos, recuperação de jovens que se envolveram na drogadição? Quem cuidaria dos idosos?”, argumentou Carvalho.
Ele defendeu também o ministro do Trabalho, Manoel Dias, cuja pasta tem ações investigadas pela operação da Polícia Federal. “Sinceramente, quem conhece o Manoel Dias sabe da seriedade dele, da história dele. Eu, sinceramente, não posso acreditar que haja qualquer problema com o ministro." Gilberto Carvalho lembrou que muitos convênios que estão no ministério sequer são da época dele, que tomou as providências necessárias, suspendendo os contratos para uma análise.
Manoel Dias e sua equipe reuniram-se na manhã de hoje com a chefe da Casa Civil, ministra Gleisi Hoffmann, com o objetivo de constituir uma força-tarefa para analisar com celeridade os processos de entidades citadas em relatórios de auditoria de órgãos de controle. A criação da força-tarefa foi uma orientação da presidenta Dilma Rousseff.
Edição: Nádia Franco
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