Morre sexto bombeiro voluntário por causa de incêndios em Portugal

04/09/2013 - 6h55

Gilberto Costa*
Correspondente da Agência Brasil/EBC

Lisboa – Morreu ontem (3) à noite o bombeiro Bernardo Cardoso (18 anos), ferido na semana passada com queimaduras em 55% do corpo após combate a incêndio florestal na Serra do Caramulo (Norte de Portugal). Por causa do mesmo incêndio, também morreu a bombeira Cátia Pereira Dias, de 21 anos, na semana passada.

Com isso, sobe para seis o número de bombeiros mortos por causa do combate ao fogo nas florestas, durante o mês de agosto, em Portugal. Todos eram de brigadas voluntárias. Há outros bombeiros gravemente feridos e internados após combate a incêndios. Desde 1980, 108 bombeiros portugueses morreram devido a incêndios.

De acordo com o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas, os incêndios florestais em Portugal consumiram, até o fim de agosto, área de 94 mil hectares, “mais 25% do que em igual período de 2012”, compara a Agência Lusa. Entre 1º de janeiro e 31 de agosto foram registradas mais de 14,1 mil incêndios, menos 1.690 ocorrências do que o contabilizado nos oito primeiros meses do ano passado.

Uma comissão interministerial faz um levantamento sobre as situações mais graves causadas pelos incêndios. “Nas duas últimas semanas ocorreram tragédias que vitimaram cinco bombeiros [agora seis] e deixaram outros em estado grave. Tenho acompanhado a situação e sou testemunha dessa realidade”, disse o ministro da Administração Interna, Miguel Macedo, na página do governo federal.

Além do aumento da temperatura, comum nesta época do ano, da falta de cuidado em terrenos e de ações criminosas como as queimadas não autorizadas (que também ocorrem nesta época no Brasil), há piora das condições de trabalho para os bombeiros nos últimos anos, como a forte austeridade nos gastos públicos. Por causa de uma alteração na lei que regulamenta o transporte de doentes diminuiu, por exemplo, este ano a receita para as corporações.

Conforme a Associação Portuguesa dos Bombeiros Voluntários (APBV), 80% do efetivo são formados por voluntários (não remunerados, sem dedicação exclusiva e com outras profissões). Desde 2011, ano do início do programa de ajustamento econômico de Portugal, a associação tem criticado o governo. “...um cidadão só é bombeiro voluntário pela sua enorme vontade de o ser, já que o saldo do benefício do exercício deste ato cívico é clara e unicamente favorável ao governo, pois tudo exige e nada retribui”, registrava há cerca de dois anos o site da entidade.

O presidente da APVB, Rui Silva, disse à Agência Brasil que os bombeiros voluntários combatem incêndios florestais com uniforme de algodão (inadequado) e sem o equipamento de proteção individual (EPI) completo. Ele teme que a licitação de EPI que está sendo feita neste momento (no total de 7 milhões de euros) pelos municípios esteja com valores subdimensionados, mal especificados e sem controle de qualidade.

Segundo Silva, se o valor não for devidamente aplicado, a associação vai processar judicialmente a Autoridade Nacional de Proteção Civil (ANPC). “Os bombeiros voluntários se constituíram para fazer aquilo que o Estado não faz. Achamos que o papel do governo deveria ser, no mínimo, de incentivo e apoio”, acrescentou.

Nesta manhã (9h, hora de Lisboa), a ANPC registrava 77 ocorrências de incêndios florestais desde a meia-noite em Portugal. Como ocorre há alguns dias, mais de 30 municípios portugueses, a maioria na Região Norte e no Centro do país, apresentam risco máximo de incêndio – conforme monitoramento do Instituto Português do Mar e da Atmosfera.

*Com informações da Rádio e Televisão de Portugal (RTP) e da Agência Lusa
 
Edição: Graça Adjuto