Thais Leitão
Enviada Especial da Agência Brasil/EBC
Manaus - "Vida de pobre é assim, minha filha. A gente sofre para ter atendimento, mas vai fazer o quê? Tem que esperar e voltar quando não tem o médico que a gente precisa". Foi com tom de resignação que a vendedora manauara Alciléia Nunes de Souza, de 30 anos, falou sobre a tarde de espera na Unidade Básica de Saúde (UBS) Alfredo Campos, no bairro Zumbi, zona leste da capital amazonense.
Sentindo desconforto por causa do agravamento do quadro de rinite alérgica, ela foi até a unidade de saúde para se consultar com um clínico geral e aproveitou para levar as duas filhas, de 4 e 9 anos de idade, que também apresentavam sintomas de problemas respiratórios. Depois de mais de quatro horas de espera, junto com as meninas, ela conseguiu ser atendida, mas teria que voltar no dia seguinte.
"Me disseram que hoje está sem pediatra, que para elas serem atendidas só amanhã. Vai ser mais um dia sem aula em que a gente vem e espera sem saber quando o médico vai atender", disse enquanto abria um pacote de biscoitos comprado em uma pequena venda do outro lado da rua. "É para disfarçar a fome delas um pouco", acrescentou.
A empregada doméstica Aurilene Barbosa, 45 anos, vizinha da UBS do bairro Zumbi, também reclamou da falta de pediatra no local e das longas filas que se formam para quem precisa pegar a senha a espera de atendimento. É ela quem leva a neta, Ana Eduarda, de 3 anos, à unidade de saúde quando a menina precisa de consulta médica.
"Aqui, a fila começa às 3h da madrugada. Às 7h, quando o posto abre para a gente pegar a senha, ela já está dando volta no quarteirão. E não é difícil acontecer de não ter o médico e a gente ter que voltar outro dia e sofrer tudo de novo", contou Aurilene que elogiou, no entanto, o atendimento da equipe de saúde. "Quando a gente é atendido, funciona. Tem uns médicos aí bem atenciosos, que olham direitinho", disse.
Na mesma unidade de saúde, um grupo de grávidas reclamava da falta de obstetra. Aos quatro meses de gestação, a desempregada Edna Isaura Aguiar, 33 anos, disse que a consulta estava sendo desmarcada pela segunda vez porque o médico que a atenderia havia faltado.
"Me mandaram esperar porque uma substituta pode chegar a qualquer momento, mas acontece que eu cheguei às 13h, já são quase 17h e até agora nada. Não dá para ser toda vez assim", disse.
Também grávida de quatro meses, a cabeleireira Jucicleide de Paula Mendes, de 25 anos, desistiu de esperar pela consulta de pré-natal. Sem ter com quem deixar o filho mais velho, de 2 anos, ela esperou por quase quatro horas sem saber se a médica substituta chegaria para atendê-la.
"A esta hora acho que não vem mais ninguém. Ele já até dormiu, vou ter que voltar outro dia", lamentou enquanto carregava o menino adormecido em seu colo. "O problema é que a gente fica sem saber se tem que tomar alguma coisa, como está o bebê. É muito ruim", disse.
A Secretaria de Saúde de Manaus admite as condições inadequadas de atendimento em muitas unidades de atenção básica, algumas com apenas 32 metros quadrados. Para tentar mudar a situação, o secretário Evandro Melo informou que o governo federal repassou ao município R$ 85,3 milhões para construção de 40 UBSs, reformar 45 e ampliar 28 delas.
Ele acrescentou que Manaus aderiu ao Programa Mais Médicos e espera receber 57 profissionais. A expectativa é que, com isso, até 2016 a cobertura da atenção básica aumente dos 37% atuais para 70% da população, atingindo 1,4 milhão de habitantes. Os restantes 30%, segundo levantamento da prefeitura, contam com algum tipo de plano de saúde privado.
Edição: Marcos Chagas
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