Camila Maciel
Repórter da Agência Brasil
São Paulo – Por mais de 20 anos, o agricultor Éder Gadioli, 51 anos, pensou que estava descartando corretamente as embalagens de agrotóxicos que utilizava nas plantações de feijão, arroz e milho no município de Roseira, a 160 quilômetros da capital paulista. Queimava o recipiente, reutilizava para transportar água ou descartava-o de forma indiscriminada. “Eram coisas absurdas. A gente não tinha informação, não sabia o que estava fazendo”, diz o agricultor. Há dez anos o procedimento mudou: a embalagem é lavada três vezes, estocada de maneira adequada e encaminhada para centrais de reciclagem específicas. É a chamada logística reversa.
Enquanto muitos setores da economia estudam formas de se adequarem à Política Nacional de Resíduos Sólidos (Lei 12.305/2010), que impõe à cadeia produtiva a responsabilidade de dar a destinação correta aos resíduos sólidos produzidos, o setor de defensivos agrícolas já colhe resultados de uma política implantada há mais de dez anos sob as normas da Lei 9.974/2000. Atualmente, 94% das embalagens vazias estão sendo recolhidas de forma adequada e gerando novos insumos plásticos, inclusive novos recipientes para agrotóxicos.
Para reforçar a necessidade de ampliar, cada vez mais, uma postura consciente no meio rural, no próximo dia 18 agosto, será celebrado o Dia Nacional do Campo Limpo. As comemorações da data tiveram início hoje (16) na cidade de Taubaté, no Vale do Paraíba. Na próxima semana, oficinas, palestras e gincanas ocorrerão em escolas e comunidades localizadas nas proximidades das 100 unidades de recebimento das embalagens em 24 estados do país.
“Conseguimos esses resultados com o envolvimento de toda a cadeia produtiva, do fabricante ao agricultor. Isso pode servir de exemplo ao meio urbano”, destacou João César Rando, presidente do Instituto Nacional de Processamento de Embalagens Vazias (inpEV), entidade que representa a indústria fabricante.
Segundo o Ministério do Meio Ambiente, o Brasil produz diariamente cerca de 240 mil toneladas de lixo, grande parte depositada de forma inadequada em lixões.
Entre 2002 e 2012, foram retiradas do meio ambiente 260 mil toneladas de embalagens de agrotóxicos, de acordo com o inpEV. A destinação correta gerou uma economia de energia suficiente para abastecer 1,4 milhão de casas no período, segundo levantamento da Fundação Espaço ECO, que reúne especialistas responsáveis pela análise da eficiência de ações sustentáveis implementadas por algumas empresas.
As mudanças trazidas com a integração do sistema agrícola facilitaram a vida de Éder. “Hoje tenho até menos trabalho [com os recipientes]. Antes tinha que queimar tudo, poluía tudo, produzia muita fumaça. Agora a gente tem a informação. Não é só porque a lei manda, é fazer a nossa parte mesmo”, disse.
A nova postura dos agricultores em relação aos agrotóxicos está refletida na diminuição do número de autuações relacionadas à armazenagem e à destinação dos resíduos dos defensivos no interior paulista. “Elas têm diminuído porque está sendo feito um trabalho que é sobretudo de educação. As pessoas agora têm uma consciência disso. São os próprios produtores que trazem as embalagens”, declarou a secretária de Meio Ambiente e Abastecimento do Estado de São Paulo, Mônica Bergamaschi.
Edição: Fábio Massalli
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