Camila Maciel
Repórter da Agência Brasil
São Paulo – Quase 90% dos acidentes envolvendo motocicletas são resultado da imprudência dos condutores, aponta pesquisa divulgada hoje (15) pelo Instituto de Ortopedia e Traumatologia (IOT) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP. "[A principal causa] é o comportamento, a falta de percepção de risco. Dirigir uma moto tem consequências e quem paga o preço é o motociclista, que é a principal vítima. Isso ficou muito claro", avaliou a médica Júlia Maria Greve, coordenadora da pesquisa.
Os dados mostram que, quando o acidente é causado por motociclistas, 88% ocorrem por imprudência. Quando o motorista de outro veículo provocou o choque, o percentual fica em 84%. Júlia Maria avalia que esse resultado mostra o despreparo de condutores em geral para enfrentar o trânsito congestionado das grandes cidades. "É preciso dar maior ênfase na questão da segurança, da direção defensiva e sobre o uso compartilhado das vias", propôs.
O levantamento foi feito com base em informações de 326 vítimas antedidas em hospitais da zona oeste da cidade, em intervalo de três meses, cujo resultado serve de amostragem para a capital.
Em relação a fatores externos, 18% das ocorrências foram provocadas por problemas nas vias. A maior parte dos acidentes (61%) ocorreu em ruas e avenidas e 34% nas marginais Pinheiros e Tietê. O estudo mostra também que 8% dos acidentes foram causados por problemas na manutenção dos veículos, sendo que os piores itens de conservação foram pneus (11%) e freios (7%).
Quanto à responsabilidade dos acidentes, observou-se uma relação equitativa: 49% foram provocados por motociclistas e 51% por outros condutores. O dado foi destacado pelo diretor executivo da Associação Brasileira dos Fabricantes de Motocicletas, Bicicletas e Similares (Abraciclo), José Eduardo Gonçalves. "Nós não temos vilões. Temos vítimas e causadores de acidentes. Não precisamos de uma caça às bruxas. Precisamos de um debate sério, com análise científica, para encontrarmos formas que resultem em maior segurança para todos", declarou. A Abraciclo patrocinou a pesquisa.
A coordenadora do trabalho chama a atenção para o fato de que 21% dos condutores estavam sob efeito de substâncias psicoativas no momento do acidente. Exames laboratoriais mostram que, de cada cinco feridos, um fez uso de droga ou consumo de álcool antes de dirigir. "Precisamos de um combate não hipócrita às drogas e aplicação efetiva das leis. É preciso valorizar a fiscalização e punir exemplarmente o motorista bêbado", propôs Júlia Maria Greve.
Representantes do Departamento Estadual de Trânsito (Detran) de São Paulo e da Polícia Rodoviária Federal também cobraram mais rigor na punição aos infratores. "Temos alguns problemas [em relação às leis]. [Há] casos de pessoas que provocaram mortes no trânsito e nós temos toda intenção de puni-las, cassar a habilitação, e o Detran não consegue. Hoje nós temos seis instâncias às quais as pessoas podem recorrer", criticou. Ele propõe que seja garantido o direito de defesa, mas que esse processo seja encurtado, trazendo mais celeridade e justiça.
Além dos investimentos nos aspectos humanos, que incentivem uma postura defensiva por parte dos motociclistas e demais condutores, Júlia Maria aposta em mudanças na engenharia de tráfego e melhorias no transporte público. Ela propõe, por exemplo, restringir o uso de motocicleta em vias de alta velocidade e, por outro lado, dar preferência às motocicletas em vias de menor velocidade. "E outra coisa é brigar. Aí estão as manifestações por transporte público de qualidade. São Paulo não suporta mais transporte individual", declarou.
Edição: Denise Griesinger
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