Flávia Villela
Repórter da Agência
Rio de Janeiro – Os adolescentes brasileiros alimentam-se mal e fazem pouca atividade física. A conclusão está na Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE) 2012, divulgada hoje (19) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que levantou indicadores sobre fatores de risco e proteção dos cerca 3,153 milhões de alunos do último ano (9º ano) do ensino fundamental, com faixa entária entre 13 e 15 anos.
Dentre as informações preocupantes no estudo estão a de que 41,3% dos estudantes disseram consumir guloseimas (balas, chicletes, chocolates, doces) cinco ou mais dias por semana e de que 78% fazem menos de uma hora de atividade física diária por semana ou nenhuma atividade.
O consumo de guloseimas só ficou atrás do consumo de feijão (70%), leite (51,5%) e hortaliças (43,4%). Cerca de 33% tomam refrigerante cinco dias ou mais na semana e 35% comem salgados fritos quase todos os dias. Apenas 30% disseram consumir frutas frescas. Aproximadamente 21% dos entrevistados responderam que nunca comem frutas e quase 11% nunca comem hortaliças. Esse padrão regular e elevado de consumo de alimentos não saudáveis tem se mantido desde 2009, quando foi realizada a primeira PeNSE.
Mãe de Gabriela, de 13 anos, a veterinária Julia Morena de Miranda Leão Turíbio diz que se depender da filha, o cardápio restringe-se a biscoitos recheados, macarrão instantâneo e outras “porcarias”.
“Não dou dinheiro para comprar lanche na escola, faço lanche para ela levar. Não compro refrigerante em casa, mas almoço pouco em casa e aí ela não come verdura. Ela quer fazer regime, mas não gosta de legumes, não come salada”, lamentou a mãe que também gostaria que Gabriela, que é aluna do 9º ano de uma escola particular em Salvador, fizesse mais atividades físicas, que atualmente se limitam a uma hora de esporte na escola por semana. “Ela quer fazer academia, mas já disse que é muito nova para isso, estamos negociando uma aula de boxe ou de dança”.
Quase a totalidade das escolas públicas (98%) oferecem alimentação aos alunos, no entanto, a maioria (80%) afirma não consumir regularmente a comida oferecida pelo estabelecimento de ensino.
A Região Norte é onde há menor consumo de feijão (41,4%) e de frutas (26,7%). Já o menor consumo de leite entre os estudantes do 9º ano na comparação com a média nacional foi verificado na Região Nordeste (39,9%). A Região Centro-Oeste apresentou a maior proporção do consumo de hortaliças (51,2%).
O estudo mostra ainda que 63,1% dos adolescentes fazem menos de uma hora de atividade física por dia, incluindo caminhada, educação física ou atividades fora da escola e 6,8% dos entrevistados não fazem qualquer tipo de atividade. Cerca de 30,1% dos estudantes são ativos ou praticam três horas de atividade física por semana ou uma hora por dia em cinco dias, quantidade mínima recomendada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para essa faixa etária.
Os adolescentes brasileiros estão entre os que mais veem televisão no mundo, hábito associado ao sedentarismo e a distúrbios alimentares. Cerca de 78% dos adolescentes da pesquisa assistem mais de duas horas de televisão por dia e 64% comem nesse período. A OMS recomenda que crianças não devem ficar mais de duas horas por dia em frente à TV. Na Região Sudeste, 80,2% dos entrevistados têm hábito de assistir a duas horas ou mais de televisão por dia.
Além dos hábitos de consumo da adolescente, Julia também se preocupa com o tempo que a filha, Gabriela, passa em frente à TV. Ela assiste a pelo menos quatro horas de programas televisivos por dia. “Se deixar fica a tarde inteira. Com a internet é a mesma coisa. De vez em quando, tenho que levar o notebook embora, senão ela não sai da internet”, contou Julia.
Com a proximidade dos principais jogos mundiais no Brasil (copas e Olimpíadas), os dados da pesquisa revelam números tímidos sobre o apoio a atividades esportivas para alunos do 9º ano. Sobre as instalações esportivas nos colégios, 1,9% dos 109 mil entrevistados tinham pista de corrida no ano passado. Nas escolas públicas esse percentual era 1%, enquanto nas particulares, 5,9%. Apenas 6,7% das escolas particulares tinham piscina. No sistema público, o percentual era 0,7%. A média de vestiários era 28,5%, sendo maior a cobertura dos estudantes de escolas privadas (66,8%) do que das públicas (20,5%).
As quadras de esporte estavam disponíveis para 79,4% dos estudantes, sendo 93,4% nas escolas particulares e 76,4% nas públicas. As aulas de educação física, apesar de serem obrigatórias (Lei de Diretrizes e Bases da Educação 96/1996) eram frequentadas por 43,1% dos adolescentes, apenas uma vez na semana. Cerca de 18% deles não faziam educação física nenhum dia da semana.
Apesar de possuir menos estrutura para as atividades físicas que os estabelecimentos privados de ensino, as escolas públicas ofereciam mais atividades esportivas gratuitas fora do horário regular de aulas (61,5% contra 38,3%), segundo o estudo.
Ainda de acordo com a PeNSE, os meninos costumam praticar mais atividades físicas que as meninas, 39,1% contra 21,8%. Entre os adolescentes que estudam em escolas públicas, 34,7% faziam uma hora ou mais de atividade física por semana, número maior que os 29,1% dos alunos das escolas privadas.
Edição: Denise Griesinger
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