Carolina Gonçalves
Repórter da Agência Brasil
Brasília – Mais de 1,2 mil toneladas de agrotóxicos proíbidos no país desde a década de 1980 foram recolhidos no Paraná. A principal substância devolvida pelos agricultores do estado foi o BHC ou hexaclorobenzeno. Os defensivos fazem parte da lista dos 21 Poluentes Orgânicos Persistentes, conhecidos como POPs na lista da Convenção de Estocolmo. Pelo tratado ratificado por diversos países em 2004, diversas substâncias devem ser extintas por causar grandes males à saúde humana e ao meio ambiente.
No Paraná, pelo menos 2 mil agricultores aderiram ao programa criado pelo governo, por fabricantes de agrotóxicos e por representações do setor produtivo, como o Instituto Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater), a Organização das Cooperativas do Estado do Paraná (Ocepar) e a Federação da Agricultura do Estado do Paraná (Sistema Faep).
O uso intenso desses defensivos no estado ocorreu até o fim dos anos 1970, quando o Paraná era apontado como um dos principais produtores de café do país e os defensivos eram usados para evitar pragas resistentes nessas plantações. Com a geada que afetou as lavouras em 1975, queimando milhões de pés de café, os produtos excedentes ficaram guardados nos imóveis.
“O estado tinha um problema com produtos obsoletos. Esses defensivos foram banidos em 1985, mas ainda tinham registros no estado e estavam escondidos nas propriedades. Se o agricultor declarasse a posse, teria que se responsabilizar pela disposição final do produto, que é cara e pouco conhecida. Sem solução, ele deixava aquilo na propriedade”, contou João Rando, diretor-presidente do Instituto Nacional de Processamento de Embalagens Vazias (inpEV), que representa a indústria fabricante do produto e o sistema de logística reversa de embalagens do produto, conhecido como Sistema Campo Limpo.
A tentativa de recolher os defensivos começou em 2009, quando os agricultores que tinham essas substâncias estocadas começaram a declarar a posse do material com a garantia de isenção de qualquer penalidade, já que as substâncias não poderiam ter sido guardadas. Mais de 2 mil agricultores e instituições declararam a existência de mais de 600 toneladas do produto inicialmente.
“A partir daí, estabelecemos a logística para que o agricultor pudesse devolver o produto, com as cooperativas, a Federação de Trabalhadores e as secretarias de governo [Meio Ambiente e Agricultura]. Criamos armazéns temporários para recolher tudo que, depois, foram desmontados. Todo o produto foi incinerado em condições adequadas”, disse Rando, lembrando que o programa durou nove anos, desde os primeiros debates sobre a situação no Paraná, iniciados em 2004.
A quantidade de defensivos entregue no ano passado superou as expectativas iniciais do grupo e a nova estimativa passou a ser a retirada de mais de 1,2 mil toneladas do campo, que foi concluída neste mês. O projeto tirou do meio ambiente esse volume de produto que colocava em risco a questão ambiental e a saúde”, completou.
Especialistas explicam que os medicamentos e os agrotóxicos como o BHC estão entre os mais persistentes no ambiente, podendo ser absorvidos por animais em toda a cadeia alimentar e alcançar os seres humanos, provocando doenças nervosas, imunológicas, reprodutivas e câncer.
Segundo Rando, o estado de São Paulo está desenvolvendo um programa nos mesmos moldes do projeto paranaense. Mesmo ocupando uma área maior, o uso de defensivos pelos agricultores paulistas não deve superar a marca do Paraná.
“Esse trabalho passa a servir como modelo. O projeto de São Paulo já tem quase dois anos e, como os POPs, não são um problema exclusivo do Brasil, esse programa pode ajudar até outros países que têm que eliminar essas substâncias”, concluiu.
Edição: Graça Adjuto
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