Camila Maciel
Repórter da Agência Brasil
São Paulo - Representantes de movimentos sociais da capital paulista criticaram novamente hoje (20), em reunião com o secretário de Segurança Pública (SSP), Fernando Grella, a forma como são recebidas as denúncias de crimes cometidos por policiais militares no estado. De acordo com Caroline Borges, integrante do movimento Periferia Ativa, as famílias das vítimas temem represálias porque os relatos são feitos aos próprios policiais, por meio das corregedorias das polícias Civil e Militar. "Não temos mecanismos seguros para denunciar o próprio Estado", criticou.
Caroline informou que, para amenizar esse ambiente de insegurança das famílias, o corregedor da Polícia Militar (PM), coronel Rui Conegundes de Souza, disponibilizou um contato direto com o gabinete dele. "O objetivo é que possamos repassar as denúncias que estamos compilando diretamente para ele, para que não tenha interferência dos batalhões nas comunidades. Isso é um avanço, mas queremos que isso esteja disponível para toda a sociedade", argumentou. Nesse sentido, o movimento defende o fortalecimento das ouvidorias, organismo autônomo, como principal canal de denúncia.
Além de seis representantes de movimentos sociais, do secretário de Segurança Pública e do corregedor da PM, estiveram representes no encontro o comandante-geral da Polícia Militar, Benedito Roberto Meira; o delegado-geral da Polícia Civil, Mauricio Souza Blazeck; e o corregedor da Polícia Civil, Nestor Sampaio Penteado Filho. O encontro foi marcado após protesto no último dia 14, no saguão do prédio da secretaria. De acordo com a assessoria de imprensa da SSP, Grella agendou a reunião para que as denúncias apontadas pelos manifestantes fossem apresentadas diretamente aos representantes das polícias.
A comerciante Rita de Cássia de Souza, 50 anos, teve o filho Bruno, 17 anos, morto em 4 de janeiro deste ano em uma chacina com sete mortos no Jardim Rosana, zona sul de São Paulo. "Meu filho estava em um bar e 15 homens chegaram atirando. Tem policiais que foram presos, mas tem gente solta ainda. Eu temo pela minha família", declarou. De acordo com a SSP, oito policiais militares são acusados de participar do crime. Este ano, 40 policiais paulistas já foram presos por suspeita de envolvimento em homicídios.
Uma das denúncias apresentadas pelo movimento informa que Bruno, logo após a chacina, foi acolhido ainda com vida por uma vizinha, que chamou a polícia para levá-lo até um posto de saúde. Segundo o testemunho da vizinha, o adolescente estava ferido apenas com um tiro no pé. O jovem, no entanto, foi levado ao Hospital Campo Limpo com oito tiros, inclusive um na nuca.
Em outro caso denunciado, a mãe de um jovem assassinado em outubro do ano passado no Capão Redondo, também na zona sul, disse estar inconformada com a demora para que sejam apontados os culpados para a morte do filho, de 19 anos. "O exame de balística mostrou que era munição utilizada pela polícia, mas até agora nada foi feito", relatou. Ela não quis se identificar com receio de represália. "Estou aqui, mas com medo de que alguém me reconheça", explicou.
O movimento reivindicou ainda à secretaria a retomada da Comissão Especial de Redução da Letalidade em Ações Policiais, criada em 2001, mas atualmente desativada. "É um grupo de interlocução, de análise dos homicídios cometidos por policiais. Isso ajuda a ter o olhar da sociedade civil em torno dessa questão", argumentou Guilherme Boulos, também integrante do Periferia Ativa.
Edição: Davi Oliveira
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