Marcelo Brandão
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Receber uma criança de origem, muitas vezes, desconhecida, é um ato de amor e abnegação. Independentemente do perfil desejado pelos novos pais e mães, adotar significa abrir-se para uma nova aventura, no melhor sentido da palavra, é reservar um espaço em sua vida para uma criança que, em pouco tempo, deixará de ser um desconhecido.
No imaginário popular, no entanto, a adoção tem severas distorções em relação ao mundo real. Nem sempre aquele bebê loiro, de cabelos cacheados, bochechas rosadas e olhos azuis estará no abrigo, esperando um casal buscá-lo. A realidade é outra. As crianças nos abrigos vêm, muitas vezes, de um passado de violência, abusos e privações severas em todos os sentidos. Algumas, inclusive, precisarão reaprender a confiar e a amar as figuras materna e paterna.
Hoje, no Brasil, há 5.471 crianças e adolescentes inscritos no Cadastro Nacional de Adoção. Desses, 1.787 são brancos, 1.035 são negros e 2.602 são pardos. Os pais podem optar por restringir-se a um tipo de criança para adotar ou estar abertos a qualquer perfil. E é aí que os números correm em sentido inverso. O número de pessoas habilitadas que querem apenas crianças brancas ainda é muito superior ao daqueles com predileções exclusivas de outras raças. São 9.474, contra 1.631 que aceitam apenas pardos e 574 que querem adotar somente crianças negras.
Para a supervisora da Vara da Infância do Distrito Federal, Niva Campos, a opção por crianças da mesma cor de pele na hora da adoção não caracteriza preconceito. “Eu diria que é um desejo que tem a ver com o narcisismo de cada um, com a história de vida de cada um. Para uns, isso vai ser muito importante, para outros adotantes isso não tem muita importância”.
Na opinião de Wagner Yamuto, administrador do site Adoção Brasil, que discute o tema desde 2004, o que falta é informação e aí é que devem entrar os grupos de apoio e sites relacionados sobre o tema para esclarecer tais dúvidas. "O que sabemos é que a conta não fecha, pois a maior parte dos pretendentes é branca e a maior parte das crianças em abrigos é negra e parda”.
Ele considera compreensível o fato de que quanto mais nova a criança, maiores as suas chances de ser adotada. “Podemos afirmar que a maior parte dos pretendentes entram na adoção porque não podem gerar filhos da forma tradicional. Com isso, entra o desejo de ver a criança dar seus primeiros passos, [dizer] as primeiras palavras, [dar] o primeiro sorriso. [Isso], em geral, só acontece nos primeiros meses de vida e não há como dizer que é preconceito e sim um desejo”.
Edição: Tereza Barbosa
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