Alex Rodrigues
Repórter Agência Brasil
Brasília - A Polícia Civil apresentou na manhã de hoje (26) mais um suspeito de ter matado morador de rua na região metropolitana de Goiânia. Desde agosto de 2012, já ocorreram 30 assassinatos nessas circunstâncias. Este é o vigésimo suspeito de envolvimento com a morte de morador de rua a ser preso, segundo as autoridades policiais.
O chefe da Delegacia de Investigação de Homicídios (DIH), delegado Murilo Polati, disse à Agência Brasil, que as prisões vêm ocorrendo desde pelo menos novembro de 2012, antes, portanto, de a ministra da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, Maria do Rosário, defender que as investigações e o julgamento dos assassinatos fossem transferidos da esfera estadual para a federal.
De acordo com o delegado, embora ainda seja tratado como suspeito, o rapaz confessou ter matado um morador de rua em 7 de fevereiro deste ano, no bairro Setor Coimbra. Durante o depoimento, o rapaz alegou que a vítima pegou sua bicicleta emprestada e não a devolveu.
O delegado revelou à Agência Brasil que o rapaz foi preso logo após o crime, mas só foi apresentado à imprensa após a conclusão das investigações para apurar as reais motivações do assassinato e se ele agiu sozinho. Com base nesse trabalho, a Polícia Civil descartou a justificativa apresentada pelo rapaz e está convencida de que a morte foi um acerto de contas por dívida com drogas.
Em resposta à onda de crimes contra a população de rua, a Polícia Civil deflagrou, no último dia 18, a Operação Lucas 6:20 (lê-se Capítulo Sexto, Versículo 20), em alusão à passagem bíblica “Bem-aventurados vós, os pobres, porque vosso é o reino de Deus”.
Segundo o coordenador da assessoria de Planejamento Operacional da Polícia Civil, delegado Reinaldo Koshiyama de Almeida, o principal objetivo da iniciativa é colher, com os próprios moradores de rua, informações que ajudem a esclarecer os assassinatos.
Os dados obtidos pelos policiais das diversas delegacias especializadas que participam da operação também vão ser usados para identificar outras questões que envolvem a população de rua, como o eventual uso de drogas e o assédio de criminosos. O objetivo é criar um banco de dados que sirva para subsidiar futuras investigações.
Os dados preliminares da Operação Lucas 6:20 ainda estão sendo tabulados, mas, segundo informações do site da própria Polícia Civil, apenas na primeira noite foram abordadas 252 pessoas. Quatro delas foram detidas portando drogas, mas três foram logo liberadas por estarem com uma quantidade de entorpecentes que não configurava tráfico. A expectativa inicial é que a operação dure ao menos 30 dias.
Na véspera do início da operação, a ministra da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, Maria do Rosário, e representantes do Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana oficiaram o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, para pedir ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) a transferência para a esfera federal da apuração e julgamento dos assassinatos de moradores das ruas da região metropolitana de Goiânia e também casos de pessoas desaparecidas após serem abordadas por policiais goianos.
Segundo denúncias em relatório da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Goiás, divulgado em setembro do ano passado, ao menos 39 pessoas desapareceram entre os anos 2000 e 2010 após serem paradas por policiais. O caso considerado mais emblemático é o do adolescente Murilo Soares, cujo desaparecimento completou oito anos nessa segunda-feira (22).
Na ocasião, o chefe da Comunicação Social da Polícia Militar, coronel Anésio Barbosa Júnior, informou que a corporação estava acompanhando os desdobramentos do caso, classificado como “extremamente complexo”, e garantiu que havia o maior interesse no esclarecimento dos fatos para que, se comprovadas as acusações, os eventuais responsáveis fossem punidos.
Procurada, a assessoria da Procuradoria-Geral da República (PGR) informou à Agência Brasil que o pedido de federalização dos crimes ainda está sendo analisado e que não há data para que o procurador dê seu parecer final.
Edição: Davi Oliveira
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