Luciene Cruz e Danilo Macedo
Repórteres da Agência Brasil
Brasília – O rigor da estiagem no Nordeste tem exigido esforço extra dos agricultores brasileiros. Luís Gonzaga da Silva, 52 anos, pequeno agricultor de Afogados da Ingazeira, município da microrregião de Pajeú, Pernambuco, conta que não tem sido fácil sobreviver ao período de seca que a cada ano “castiga” o Semiárido, acabando com as plantações e, conseqüentemente, deixando os animais sem alimentos.
“Já consideramos o ano perdido. Chuva mesmo só caiu até o começo de janeiro. De lá para cá não choveu quase nada. Com tanta seca tem sido difícil alimentar os animais”, lamenta. O pequeno produtor, “nascido e criado na roça”, diz que todo ano o sofrimento se repete.
Na tentativa de minimizar os efeitos da seca prolongoda, o governo federal tem enviado milho aos agricultores a ser usado para alimentação dos animais. A estimativa da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) é que um total de 340 mil toneladas do grão seja entregue na região até o fim de maio. O volume é capaz de atender aos pequenos produtores atingidos do Semiárido por dois meses.
Apesar das ações emergenciais, o diretor de Operações e Abastecimento da Conab, Marcelo Melo, disse que toda a quantidade enviada pelo governo ao Nordeste “não é suficiente” para solucionar o problema. Para ele, é necessário investimento em programas para produção de capim, palma e cana, para ajudar na composição da alimentação dos animais.
“Tudo que mandar não é suficiente, porque o milho não pode ser o único componente da ração do ruminante. Não podemos ter ilusão que vamos alimentar todo o rebanho com milho”, disse. Melo ressalta ainda que o governo tem dificuldade no envio do produto, devido à capacidade de armazenagem na região ser muito pequena.
Na avaliação de Lopes, o governo está fazendo o que pode, considerando a estrutura atual de armazéns locais e de logística de transporte para deslocar, em curto período de tempo, grandes quantidades de milho de outras regiões para o Nordeste. Segundo o diretor da Conab, radiografia da região detectou a necessidade de construção de armazéns para que o governo possa manter estoques. A estimativa é que cada unidade com capacidade para 100 mil toneladas custe cerca de R$ 45 milhões.
Enquanto os armazéns não passam de projetos, o estoque de milho enviado pelo governo, ao custo de R$ 18 reais a saca para o pequeno pecuarista, ajuda a sobrevivência do rebanho. Segundo Luís Gonzaga da Silva, o preço na região chega a R$ 54 reais. “É uma grande ajuda, porque faltam oito meses para começar o período de chuvas de novo”, comenta.
Para o pequeno agricultor, a desvantagem é a quantidade limitada por pessoa que varia de acordo com a quantidade do rebanho. “Consigo comprar 1,5 tonelada por mês, o ideal seriam 3 toneladas”, calcula.
Segundo o diretor da Conab, a quantidade limitada de até 6 toneladas por agricultor visa a beneficiar mais agricultores e os de menor porte. “Usamos o critério do bom senso. Temos que dividir o que temos para atender o maior número possível de beneficiários”, justifica.
Enquanto isso, o xará do Rei do Baião ainda não pode comemorar ter deixado definitivamente para trás as dificuldades com a seca, falta de água e alimentos para os animais, cantadas por Luís Gonzaga décadas atrás. O desenvolvimento econômico e as tecnologias já estão presentes no país, mas ainda podem levar algum tempo para chegar à região.
Edição: José Romildo
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