Thais Leitão
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Grand-jeté, Plié, Pas de Chat. Há três anos esses e outros movimentos de balé ocupam boa parte do dia a dia da gaúcha Andreza Borges, de 14 anos. Desde 2010, ela decidiu deixar para trás Bento Gonçalves, sua cidade natal, amigos e parte da família, para tornar-se aluna da Escola do Teatro Bolshoi no Brasil. Localizada em Joinville (SC), a unidade é a única escola do Bolshoi, uma das principais companhias de balé e ópera do mundo, fora da Rússia.
Histórias semelhantes, permeadas por encantamento, precisão, ritmo e, principalmente, força, podem ser contadas pelos 355 alunos da escola, vindos de 19 estados. Noventa deles se apresentam hoje (25) à noite, em Brasília, em um espetáculo que vai comemorar os 10 anos do Ministério do Turismo.
“A gente tem uma rotina puxada, dividida entre a dedicação ao balé e à escola, porque temos que ter boas notas para não perder a vaga no Bolshoi. Mas todo o sacrifício e até a dor, afinal nossos pés ficam feridos e arrebentados, são superados quando subimos no palco, conseguimos demonstrar nossos sentimentos, emocionar o público e receber o aplauso. Não há recompensa melhor que esta”, disse a adolescente que, desde que foi morar em Joinville vê o pai apenas duas vezes por mês.
“Minha mãe e meu irmão vieram comigo para me apoiar, mas meu pai não teve como vir, porque ele tinha que continuar trabalhando em Bento Gonçalves. Morro de saudade, mas sei que estou lutando e investindo no meu sonho. Tudo o que quero é ser uma grande bailarina e, quem sabe, fazer parte do Bolshoi na Rússia”, disse, decidida a dar o salto desafiador.
Criada há 13 anos, a Escola do Teatro Bolshoi no Brasil tem ações voltadas à educação, à cultura e ao desenvolvimento social de crianças, adolescentes e jovens com idade entre 9 e 20 anos. De acordo com a diretora administrativa financeira da unidade brasileira, Célia Campos, a cada ano são abertas 40 vagas para iniciantes. Todos os alunos contam com bolsa integral para participar do projeto que, somente no ano passado, promoveu 64 apresentações em várias partes do país.
“Ao longo desses anos formamos 184 bailarinos e mais de 70% deles estão empregados em companhias de dez países, incluindo o Bolshoi da Rússia. É um trabalho que emociona muito, porque além de toda a beleza que envolve, também promove sonhos de quem, muitas vezes, não teria condições de realizá-los”, disse, lembrando que boa parte dos alunos é proveniente de áreas de periferia.
“Mesmo aqueles que não seguem carreira no balé, aprendem, ao participar do projeto, a se tornarem artistas cidadãos, desenvolvendo capacidades fundamentais em qualquer área de atuação, como disciplina, empenho, paciência, dedicação e superação”, ressaltou.
A diretora do Bolshoi Brasil explicou que o espetáculo de hoje, Grande Suíte do Ballet Don Quixote, terá a participação de 90 bailarinos e bailarinas da escola, que contarão a história, “com traços hispânicos marcantes”, do nobre cavaleiro e de Sancho Panza, seu fiel escudeiro, que ajudam os apaixonados Kitri e Basílio a se casarem, em uma grande festa, em Barcelona.
O espetáculo, baseado no clássico da literatura de Miguel de Cervantes, será no Ginásio Nilson Nelson, às 20h30. Além de marcar os 10 anos do Ministério do Turismo, o evento faz parte das comemorações do Dia Internacional da Dança, em 29 de abril.
Veja aqui a galeria de fotos do espetáculo Don Quixote.
Edição: Carolina Pimentel
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