Luciano Nascimento
Enviado Especial Agência Brasil/EBC
Rondônia – Doenças que poderiam ser prevenidas e tratadas, como sarampo e tuberculose, ainda estão presentes nas terras indígenas dos índios suruís e cintas-largas, em Rondônia. As doenças, herança do contato com os não índios, preocupam as lideranças, que reclamam dos serviços de saúde prestados nas aldeias.
Os índios suruí vivem na Terra Indígena Sete de Setembro, que se localiza nos municípios de Cacoal, em Rondônia e de Arupuanã, em Mato Grosso. O primeiro contato com os brancos data de 1969, quando os índios começaram a ser contagiados por doenças que reduziram drasticamente a população, estimada em 5 mil indivíduos. No início dos anos 1980, os suruí chegaram a menos de 300 indivíduos.
Em boa parte das aldeias, falta saneamento básico. Os índios argumentam que nos postos de saúde faltam medicamentos e que é precária a assistência prestada pela Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), órgão vinculado ao Ministério da Saúde, responsável pela assistência desde 2010.
“Falta medicamento pra nós. Tem muito tipo de doença: tem diarreia, vômito. Então, aqui completamente não tem remédio”, reclama o cacique da aldeia Gabgir, Gasalab Suruí. Segundo ele, muitas vezes a comunidade precisou de ambulância ou transporte para atender a uma emergência e não teve o pedido atendido.
A técnica de enfermagem do posto de saúde da aldeia, Luana Sousa Moraes explica que os índios também sofrem com doenças virais como gripe e pneumonia. Mas que a tuberculose é a que mais preocupa. Responsável por cuidar de mais de 350 índios de três aldeias, ela lembra que no ano passado a situação se tornou mais grave quando houve um surto da doença entre os indígenas.
“Por isso foi contratada uma grande equipe especializada em fazer exames, toda para diminuir esse surto. [A tuberculose] é uma doença que sempre tem que se estar monitorando, porque eles têm contato com outras aldeias. Tem casos que ainda não foram descobertos”, observa.
De acordo com a Sesai, com exceção de duas aldeias, existem postos de saúde nas demais comunidades da Terra Indígena Sete de Setembro. O atendimento médico para os casos mais graves é prestado na Casa de Saúde Indígena, em Cacoal, ou na rede de saúde pública do município. O transporte dos índios é feito com veículos e motoristas do órgão.
Vizinhos dos suruís, os índios cintas-largas sofrem com a incidência de diabetes. A doença, antes inexistente entre os índios vem crescendo em função da mudança nos hábitos alimentares, em especial o consumo excessivo de alimentos à base de açúcar e afeta boa parte dos mais de 1.800 índios.
Os cintas-largas, chamados assim por ostentarem uma espécie de cinturão feito da entrecasca de uma árvore, habitam a Terra Indígena Roosevelt, situada entre os estados de Rondônia e Mato Grosso. A aérea, rica em diamantes, tem sofrido com a presença de garimpeiros.
“A principal doença que os índios cintas-largas enfrentam hoje é [o diabetes]; tem muito no meio dos cintas-largas. Essas comidas que o homem branco produz na cidade, que passa muitas químicas, muito veneno, deve ser isso que a gente não aguenta e a gente acaba se prejudicando bastante”, observa o líder Marcelo Cinta-Larga.
Em março, o Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF1), em Brasília, acatou uma ação do Ministério Público Federal (MPF), pedindo a contratação de uma equipe multidisciplinar de saúde para atuar em benefício dos índios cintas-largas. A decisão TRF1 reformou a sentença do juiz de primeira instância, que havia encerrado o processo sem julgá-lo.
No final de 2012, a Sesai anunciou investimentos para a reforma das mais de 50 casas de Saúde Indígena (Casai), que que funcionam como locais de apoio para os índios que vão buscar atendimento médico de média ou alta complexidade nas cidades. Os gastos foram estimados em R$ 441,5 milhões, valor que se aproxima de todo o orçamento da secretaria para 2012, que foi de R$ 684 milhões.
O secretário especial de Saúde Indígena, Antônio Alves de Souza, disse que, em julho de 2012, foi criado um comitê para tratar de questões ligas à saúde e à segurança alimentar dos indígenas. “Nós estamos discutindo no comitê uma avaliação da composição da cesta de alimentos que o Ministério do Desenvolvimento Social distribui para as comunidades, tentando aproximar ao máximo dos seus hábitos culturais”.
Edição: Tereza Barbosa
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