Camila Maciel
Repórter da Agência Brasil
São Paulo – A Comissão Estadual da Verdade de São Paulo ouviu hoje (12) os depoimentos de parentes de desaparecidos políticos que participaram da Guerrilha do Araguaia, grupo armado de resistência à ditadura militar instalado no Pará na década de 1970. Foram discutidos os casos de nove militantes nascidos em São Paulo ou que tiveram atuação no estado.
O caso dos irmãos Jaime e Lúcio Petit da Silva foi relembrado por Laura Petit, irmã dos ex-militantes do Partido Comunista do Brasil (PCdoB). "Eu tive três irmãos desaparecidos no Araguaia [o desaparecimento de Maria Lúcia Petit foi analisado no mês passado]. A minha família foi dizimada pela ditadura. Espero que o Estado brasileiro faça jus ao resultado da Comissão da Verdade e responsabilize as pessoas que praticaram esses atos", disse.
De acordo com o histórico dos desaparecidos, organizado pela comissão, Jaime desapareceu em 28 ou 29 de novembro de 1973 após um cerco militar à região da guerrilha. Lúcio está desaparecido desde 21 de abril de 1974, e sumiu também depois de ataque dos militares no Araguaia. Os dados constam no Relatório Arroyo, escrito pelo dirigente do PCdoB, Ângelo Arroyo, que sobreviveu às investidas militares na região.
Laura Petit está confiante no trabalho feito pelas Comissões da Verdade, mas acredita que os familiares apresentaram todos os dados que deveriam e agora é preciso escutar os agentes da repressão. "Existe um arquivo vivo da ditadura militar que precisa ser ouvido. Gostaria de ver sentado naquela mesa as pessoas que praticaram esses atos", disse à Agência Brasil.
De acordo com o deputado estadual Adriano Diogo, que preside os trabalhos, neste primeiro semestre a comissão está empenhada em reunir o máximo de informações sobre os 154 casos analisados para, em seguida, identificar quais informações de cada fato ainda devem ser buscadas. "As audiências, por enquanto, são praticamente com o que já havia. Vamos ter que aprofundar. Saber como foi, quem praticou. É uma fase mais complexa", explicou.
Outro depoimento de hoje foi Rosana de Moura Momente, filha do militante Orlando Momente. "Tenho poucas lembranças do meu pai. Na verdade, nunca convivi com ele. Acabei sabendo um pouco mais sobre ele a partir do contato com a Criméia [Almeida, também participante da Guerrilha do Araguaia]. Até hoje enfrento dificuldades relacionadas ao meu pai, porque nós não temos a data exata da morte e minha mãe não pode receber pensão por isso", disse. Orlando foi visto pela última vez em 30 de dezembro de 1973 no sul do Pará.
A escritora Liniane Brum, sobrinha de Cilon Brum, morto em 27 de fevereiro de 1974, relatou durante a audiência o resultado das entrevistas feitas por ela na região do Araguaia. "A ausência do meu tio tem exatamente a minha idade. Eu vivi esse vácuo, esse silêncio. A espera da minha avó durante todo esse tempo. Movida por essa dor, em 2000, decidi ir ao Araguaia e ouvir das pessoas que lá viveram o que aconteceu", disse. O material desse trabalho foi reunido no livro Antes do Passado - o Silêncio Que Vem do Araguaia.
"Fiz três viagens independentes ao Araguaia. A primeira em dezembro de 2009. Fui com o foco familiar, mas chegando pude encontrar pessoas que me falaram principalmente do fim da vida do Cilon. Ele já abatido, preso, a fase de extermínio mesmo. Acho que essas pessoas [da região] deveriam ser ouvidas em espaços como esses. Eles têm a memória desse pedaço da história", disse.
Também participaram da audiência Maristela Nurchis, irmã do guerrilheiro Manoel José Nurchis; José Dalmo Ribas, irmão Antônio Guilherme Ribeiro Ribas; Igor Grabois, filho de Gilberto Olímpio Maria. Parentes de Pedro Alexandrino de Oliveira Filho e Miguel Pereira dos Santos foram convidados, mas não compareceram à reunião.
Edição: Fábio Massalli
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