Subnotificação de roubos a museus dificulta recuperação de peças, diz diretor do Ibram

04/04/2013 - 15h54

Vinícius Lisboa
Repórter da Agência Brasil

Rio de Janeiro – O Cadastro de Bens Musealizados Desaparecidos, do Instituto Brasileiro de Museus (Ibram), contabiliza 113 obras do acervo roubadas e não recuperadas. O número já inclui a pena de ouro que pertenceu ao ex-presidente Afonso Pena e foi furtada esta semana do Museu da República, no Rio de Janeiro.

A lista, no entanto, deveria ser muito maior e poderia ajudar mais no rastreamento das peças, segundo o diretor de Processos Museais do Ibram, Cícero de Almeida, já que a notificação dos roubos praticamente se limita aos 30 museus do Ibram.

Como a inclusão de uma peça no cadastro depende do registro voluntário por parte das administrações dos museus, as 30 instituições coordenadas pelo Ibram respondem por 94% dos objetos enumerados. Cícero garante que o número de furtos no país é muito maior que o contabilizado no cadastro e que a falta de notificações dificulta a recuperação das peças.

"É um cadastro aberto para que os museus alimentem por adesão, mas a adesão dos museus de fora do Ibram é mínima. Nós [Ibram] resolvemos assumir e divulgar as peças roubadas e cortar na carne. Os museus têm muito medo de divulgar que tiveram peças roubadas, o que deveria ser exatamente o contrário. Quanto menos tempo levamos para divulgar o roubo, mas fácil e rápido é rever as peças", diz Cícero.

Segundo o diretor, tornar os roubos públicos poderia ajudar na formulação de políticas públicas e na intimidação de compradores: "A divulgação imediata pode interromper esse circuito. Qualquer um que queira comprar essa peça, assume o risco ao saber que é roubada".

Para contornar a falta de informação, o Ibram estuda a formulação de um cadastro alternativo, feito pelos próprios servidores a partir de roubos noticiados pela imprensa.

O Rio de Janeiro lidera a lista de peças desaparecidas – posição que se deve principalmente ao roubo ao Museu da Chácara do Céu, de onde foram tiradas em 2006 obras como Marinha, de Claude Monet, A Dança, de Pablo Picasso, Os Dois Balcões, de Salvador Dali e O Jardim de Luxemburgo, de Henri Matisse.

Das 58 peças subtraídas de museus do Rio, 50 foram levadas apenas desse centro cultural. O Museu da República, roubado esta semana, já tinha sido vítima de ladrões em 1993, quando foi roubado um revólver que pertenceu ao também ex-presidente marechal Deodoro da Fonseca. As outras seis peças pertencem à Paróquia Nossa Senhora dos Remédios, em Paraty, e incluem coroas de ouro e imagens sacras.

A outra metade da lista é composta basicamente por museus de Minas Gerais, entre os quais se destaca o Museu do Ouro, com 47 peças roubadas, muitas delas de arte sacra. O Museu da Inconfidência, em Ouro Preto, também aparece na lista, junto do Museu Regional de São João Del Rey e do Museu do Diamante, em Diamantina. O estado tem 53 peças desaparecidas na lista.

A Prefeitura de Porto Alegre foi a única da Região Sul a registrar o desaparecimento de uma obra – o quadro Retrato de Mulher, de Alberto Guignard. No Centro-Oeste, um grilhão de uso infantil foi levado do Museu das Bandeiras, na Cidade de Goiás (GO).

A maior parte dos objetos roubados era usada no interior de prédios, como tapetes e castiçais. Objetos pessoais, como cachimbos, vêm logo depois, seguidos de artigos de arte sacra.


Edição: Denise Griesinger

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